A TV estava ligada na casa sem muros em Jurerê Internacional, Norte da Ilha. O cachorrinho começou a latir diferente. Dois jovens com camisetas amarradas no rosto entraram pela varanda aberta. Ameaçaram atirar no cão se ele não parasse de latir. A pessoa que mora na casa pegou seu animal de estimação no colo e começou a chorar.
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Este foi o começo dos 60 minutos de pânico vividos pela vítima, 54 anos, aposentada. Para sua segurança, ela não foi identificada. O mais recente assalto em um dos bairros mais caros de Florianópolis aconteceu às 22h45min de quarta-feira.
Os jovens com aparência de 16 anos de idade, vestidos com jaqueta, calça e chinelos estavam com areia nos pés. A vítima acha que chegaram pela praia. O choque de ver dois assaltantes dentro da própria casa deu lugar ao pavor. O medo era de violência física. Procurou se manter calma.
– Queremos dinheiro. Onde está o cofre? – perguntou um dos assaltantes.
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– Dinheiro eu tenho muito pouco. Cofre eu não tenho – respondeu a vítima.
– Uma casa grande dessas não tem cofre? – rebateu o rapaz.
– Ninguém mais guarda as coisas em casa. Guarda no banco – disse a vítima.
Roubo da joia de estimação
Escoltada pelos ladrões, a vítima subiu para o quarto com o cachorrinho no colo e sentou em sua cama. A dupla colocou a arma sobre a cama e foi direto na caixa de bijuterias e joias. Não paravam de cochichar.
– Ainda pensei em pegar a arma, mas achei que podia ser de brinquedo e eles ainda me baterem – disse a vítima.
Os dois não a agrediram nem bagunçaram a casa. Também não levaram os cartões de crédito. Abriram gavetas, caixas e bolsas. Encontraram 10 mil dólares. Levaram também R$ 150 da carteira, celulares, iPod, câmera e um iPad. A vítima pediu para ficar com o chip. Eles deixaram, mas ela não conseguiu tirar do tablet.
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Cerca de R$ 50 mil em joias foram roubados. Um colar com três voltas de pérolas, dois colares de turquesa, dois pares de brinco, corrente e pulseira de ouro, além de três relógios das marcas Bulgari, Hublot e Amsterdam Sauer. E a joia preferida: uma Nossa Senhora de brilhantes, que a vítima mandou fazer quando perdeu um filho.
Os três e o cachorrinho desceram para a sala. Os ladrões abriram a geladeira, mas não comeram nada. Um deles voltou para procurar o que roubar nos quartos e no escritório. Quando um queria falar com o outro, assoviavam. A vítima, o cachorrinho e um dos assaltantes sentaram no sofá. Ficaram em silêncio até o outro ladrão voltar.
– Eu estava em pânico. Queria tanto que eles fossem embora que perguntei se eles não queriam levar meu carro – contou a vítima.
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Eles não quiseram.
Assaltantes comem laranjas antes da fuga
Era meia-noite e o assalto chegava ao fim. Os jovens encapuzados trancaram a vítima e o cachorrinho no closet.
– Não grite porque se eu voltar, mato seu cachorro – ameaçou um dos assaltantes.
– Como é o nome da rua? Daqui a uma hora vou ligar para alguém te tirar daqui – disse o outro.
Ele não ligou. Antes de fugirem, comeram laranjas e levaram algumas na mochila.
A vítima esperou até não ouvir mais barulho na casa. Aliviada por não ter sido levada como refém, pensou como sair dali. Achou uma fivela e começou a empurrar a chave, que caiu no chão. Como o vão da casa estilo americano é grande, alcançou a chave. Depois de uma hora trancada, conseguiu sair e chamou a polícia.
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Casa com porta aberta
O policial militar perguntou se a vítima estava bem, se tinha se machucado. Pediu a descrição dos assaltantes e falou que estava mandando uma viatura. A PM chegou rápido. A vítima ligou para um dos filhos, mas não conseguiu comunicação. Uma amiga foi fazer companhia.
Chegaram mais policiais e a equipe de vigilância do bairro. Fizeram buscas na praia e registraram a ocorrência. Disseram para a vítima não se preocupar porque não parecia um assalto planejado. Foi uma oportunidade que encontraram em uma casa com porta aberta.
Às 4h, a amiga e os policiais foram embora. A vítima trancou toda a casa e foi deitar, mas não conseguia dormir. O cachorrinho ficou ao seu lado. Ela pegou no sono às 7h e acordou às 10h. Foi ao banco cancelar os cartões por precaução e à 7a DP de Canasvieiras registrar o B.O.
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– Nunca imaginei um assalto aqui. É a violência. A gente mora num lugar lindo, mas tem que ficar trancado. Vacilei de deixar a porta da varanda aberta. Agora, me cercarei de cuidados. O mais importante é não ter acontecido nada comigo. Reavaliei um monte de coisas – concluiu a vítima do assalto em Jurerê Internacional.