Gênero que redefiniu a música pop brasileira, a axé music completa três décadas em 2015. Da gestação não planejada nos anos 1980, passando pela consagração comercial nos 1990, até a necessidade de se misturar com outros estilos para sobreviver nos anos 2000, confira os personagens, as músicas e os principais momentos desta história.

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O MARCO INICIAL

Luiz Caldas já era um músico experiente quando gravou Fricote, para o disco Magia, em 1985. A música, que misturava ritmos afros e sintezadores, explodiu durante o Carnaval na Bahia e se alastrou rapidamente para todo o Brasil. Tocando sem parar no rádio e na TV – Caldas não saía do Cassino do Chacrinha, por exemplo -, Fricote vendeu mais de 400 mil cópias do seu LP e fundou o gênero que mudaria para sempre a música pop brasileira.

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O FATOR DANIELA

Empolgadas com o sucesso de Luiz Caldas, as gravadoras começaram a vasculhar a Bahia atrás de novos tilintadores de caixas registradoras. Um dos maiores acertos foi uma baiana ligada no 220 volts: Daniela Mercury. A morena de voz grave já era um sucesso no Nordeste com a música Swing da Cor, hit do seu primeiro disco, homônimo, lançado em 1991. Um ano depois, o país todo se rendia ao álbum O Canto da Cidade, cuja faixa-título foi tocada à exaustão e reforçou o poder de fogo do axé.

DANÇANDO, DANÇANDO

Até 1995, todo mundo dançava axé da maneira que achasse melhor. Mas, naquele ano, um grupo botou ordem na folia. Amparado por duas dançarinas de vestuário reduzido, o Gera Samba acrescentou uma dose de erotismo ao gênero, com coreografias criadas a partir das letras de suas músicas – que, com alguma generosidade, podem ser consideradas de duplo sentido. É o Tchan!, do disco homônimo (e que depois veio a se tornar o nome da banda), foi a primeira a ganhar coreografia, seguida de uma infinidade de outras que ensinavam o público a mexer o quadril enquanto apalpava partes do corpo. A partir dali, as coreografias virariam regra no axé.

AS COREOGRAFIAS

VÍDEO: aprenda 3 coreografias que marcaram o Axé

AS MUSAS

De corpete e luvas à la Rita Hayworth, Daniela Mercury foi uma das primeiras grandes musas da axé music. Atentas, as gravadoras começaram a apostar em outros rostinhos bonitos – tivessem eles ou não competência vocal. Nessa leva surgiram nomes como Ivete Sangalo, que, além de bonita, segurava a onda em cima do palco e do trio elétrico. O mesmo valeria, mais tarde, para Claudia Leitte. Sem abrir a boca, Carla Perez também merece lugar de destaque nessa categoria – afinal, nem só de música vive a axé music.

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MÚSICAS FUNDAMENTAIS

Fricote, de Luiz Caldas, inaugurou o gênero, mas quem o tornou comercialmente viável foi O Canto da Cidade, de Daniela Mercury. Na esteira, Sarajane cavou seu lugar com A Roda, enquanto Margareth Menezes inventou o samba-reggae com o sucesso Faraó. Um dos maiores grupos afro do Brasil, o Olodum é lembrado por Requebra. Ainda na seara das bandas, destacaram-se Chiclete com Banana (Cara Caramba Sou Camaleão), Banda Beijo (Beijo na Boca), Banda Eva (Levada Louca) e Bamdamel (Prefixo de Verão).

O AXÉ HOJE

Nos anos 2000, a crise da indústria musical freou o avanço da axé music. Com medo de investir em novos artistas, as gravadoras (e, consequentemente, as rádios) passaram a focar apenas em nomes confirmados – especialmente cantoras com apelo mais pop, como Ivete Sangalo e Claudia Leitte. Gregário por natureza, o gênero começou a absorver outros estilos, como pagode, reggae e samba, e aí vieram Psirico (do hit Lepo Lepo) e Parangolé (Rebolation). O reflexo dessas mudanças pode ser conferido em sua festa maior: no Carnaval de Salvador, há anos artistas sem nenhuma ligação com o axé original, como funkeiros e sertanejos, ocupam os trios elétricos.