Não há nada pior para o espectador que um filme lhe provoque indiferença. Um cineasta pode procurar o choque, o impacto, o deboche, a ofensa, mas nenhum procura o vazio. A arte é feita para compartilhar, enfatizar e, às vezes, transformar.

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Muitas das obras que foram exibidas em festivais, serviços de streamings e nas salas de cinema neste 2021 repartiram opiniões. Alguns filmes foram amados na mesma medida que foram detestados. Destes, vocês verão uma quantidade considerável nesta lista. Embora narrativas celebrem pontos objetivos e necessários para sua melhor construção, o gosto por uma obra é subjetivo, e o cinema é debatido com paixão, desafio e entusiasmo.

A seguir, eu listei 25 filmes que me entusiasmaram, desafiaram e me apaixonaram neste ano. São meus favoritos de 2021. Alguns deles chegarão ao Brasil nas próximas semanas. A lista é em ordem decrescente (e busquei manter o título original das obras).

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Os melhores filmes de 2021

25 – The Matrix Resurrections, de Lana Wachowski

O filme de Lana muda de uma discussão sobre a filosofia idealista para a materialista; mantendo a essência, mas aprofundando seu debate. É uma obra que fala mais sobre a sociedade atual do que muitos filmes que pretendem fazer isto. Lana entende que os casulos mudaram e a convivência, idem. A busca pelo equilíbrio passa a ser o contato humano.

Onde assistir: cinemas

24 – Flee, de Jonas Poher Rasmussen

O mundo é um lugar cruel e perigoso, onde algumas identidades importam mais do que outras. É isso que permeia a vida de Amin, que apenas procura um lugar pra viver seguro. Esse híbrido entre documentário e animação, Flee, narra a história de um afegão que vive na Dinamarca, mas ainda carrega o medo cultural de seu país, que persegue homossexuais.

Onde assistir: Mubi

23 – C’mon C’mon, de Mike Mills

O paradoxo entre o acolhimento e os tons fúnebres, tristes e sem vida da fotografia conferem a ambiguidade procurada por Mike Mills com excelência. Phoenix interpreta um homem de natureza triste, mas que ainda busca uma vida plena em sociedade. Ele faz um rádio jornalista que tenta enxergar a esperança nos olhos de crianças. Seu comportamento é munido de traços de melancolia e de aberta curiosidade. Além do protagonismo, destaque para a trilha sonora e para Gaby Hoffmann.

Onde assistir: chega em fevereiro no Brasil, nos cinemas, com o nome de Sempre em Frente

22 – Annette, de Leos Carax

Annette é o novo filme de Leos Carax (Holy Motors). É uma obra provocadora sobre fraude e falsas aparências. Um mundo faz de conta e premeditado. Conta metalinguisticamente a história de um comediante stand-up depressivo (Adam Driver) e uma cantora de renome internacional (Marion Cottilard), que enfrentam o declínio do casamento quando nasce a pequena Annette.

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Onde assistir: Mubi

21 – Benedetta, de Paul Verhoeven

Uma obra profana de um diretor em busca da malícia e do confronto. Conta a história da freira Benedetta, a qual se apaixona por uma noviça.

Onde assistir: 13 de janeiro nos cinemas

20 – Belfast, de Kenneth Branagh

Narra a história de um garoto que cresce na cidade de Belfast. Como uma coleção de fotografias empoeiradas, Branagh relembra as imagens de sua infância com controle e clareza absolutos. Do ponto de vista de Buddy, o mundo transita entre estimulante, musical, inofensivo, aventureiro e melancólico.

Onde assistir: Chega aos cinemas em fevereiro

19 – Pig, de Michael Sarnoski

Esse é um filme obscuro sobre um caçador que vive com sua porca de estimação. É de uma violência que impera no ar, embora tenha momentos delicados. Nicolas Cage é espetacular.

Onde assistir: Telecine

18 – Marighella, de Wagner Moura

A estreia de Moura na direção é uma obra autoral de profunda qualidade, que celebra a liberdade com força e coragem. Algumas das sequências mais fortes do ano estão neste filme, como aquela em que Seu Jorge segura seu filho enquanto um tanque passa pela rua e, claro, o espetacular plano-sequência que inicia o filme.

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Onde assistir: Globoplay

17 – À l’abordage, de Guillaume Brac

Os romances modernos adultos, onde as pessoas buscam o contato pra não se sentirem sozinhas ou presas às suas próprias realidades. É um filme sobre um homem que viaja pelo país para encontrar uma mulher que conheceu numa festa.

Onde assistir: Mubi

16 – In the Heights, de Jon M. Chu

O musical baseado na peça de Lin Manuel Miranda (Hamilton). In The Heights tem um calor das ruas que é inebriante. É algo belo e político. Nenhuma daquelas músicas realmente é memorável, mas a paixão e os sonhos daquelas pessoas são. Bem dirigido e fotografado, é um filme divertido e cativante.

Onde assistir: HBO Max

15 – CODA, de Siân Heder

No Brasil, ele saiu como No Ritmo do Coração. É sobre o relacionamento de uma garota de uma família de surdos-mudos que persegue o sonho de cantar. Uma obra delicada e aconchegante. Cheia de cor e de paz.

Onde assistir: AppleTV +

14 – No Man of God, de Amber Sealey

Novo longa-metragem sobre o assassino serial Ted Bundy. Em um dos grandes momentos do filme, Bundy (interpretado por Luke Kirby) parece falar exatamente o que a personalidade evangélica na frente dele quer ouvir. Noutro, ele olha para fora da prisão e debocha da sociedade ensandecida, que a considera louco. Sem dúvidas, uma narrativa complexa e difícil, na qual pode tanto ressaltar a dissimulação tão bem feita de Ted Bundy quanto pode causar um medo sutil como uma obra de Camus. Luke Kirby é extraordinário.

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Onde assistir: Sem previsão no Brasil

13 – The Last Duel, de Ridley Scott

Saiu no Brasil como O Último Duelo. Conta a história da família De Carrouges e o estupro praticado por Le Gris, em três versões, diante de um tribunal. Jodie Comer, que interpreta a vítima, é uma força da natureza, e o terceiro ato de Ridley Scott é um assombro. Filmaço que traduz com ferocidade algumas das coisas que o seu diretor tem de melhor, como sequências violentas e pessoas vis.

Onde assistir: Cinemas. Sem previsão ainda no streaming

12 – PVT Chat, de Ben Hozie

É sobre um viciado em sexo online que encontra uma das suas musas pessoalmente. O filme de Ben Hozie navega por águas turbulentas, onde a linha tênue do stalk e da paixão se cruzam todos os momentos. O curioso são que todos os personagens de PVT Chat são pessoas quebradas vivendo numa sociedade em ruínas, onde tudo se prova na sugestão e no pensamento. É um testemunho forte de uma sociedade virtualizada.

Onde assistir: Mubi

11 – Mass, de Fran Kranz

Duas famílias ficam frente a frente, após um assassinato em massa. Como uma peça teatral, as fases do luto são condensadas pelo excepcional roteiro de Fran Kranz. Reed Birney, Ann Dowd, Jason Isaacs e Martha Plimpto estão entre as melhores atuações do ano.

Onde assistir: Sem previsão no Brasil

10 – Candyman, de Nia DaCosta

De uma maneira geral, as sirenes policiais sempre representaram uma segurança no gênero do terror. Que estávamos finalmente seguros e no final daquela experiência violenta. Éramos sobreviventes. Para a geração de Nia, Jordan Peele e outros, as sirenes não representam o bem. Elas são parte do temor, elas são partes da violência. O único fim que ela projeta é o da vida. Em Candyman, Nós ou Corra, as sirenes são capazes de assustar. São os enxames que vem pra matar.

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Candyman, de Nia DaCosta, evoca a lenda que nasceu do gueto como um grito desesperado. É um terror fortíssimo.

Onde assistir: Disponível em blu-ray. Em breve, no streaming

9 – Don’t Look Up, de Adam McKay

Dont Look Up (Não Olhe Pra Cima, em português) é um retrato abertamente afetado, ridículo e brilhante sobre um mundo pré fabricado e ignorante. Adam McKay faz uma versão moderna e debochada de um dos melhores filmes de Sidney Lumet, Limite de Segurança, onde a sociedade é encarada com desprezo e pessimismo.

Onde assistir: Netflix

8 – Babardeala cu bucluc sau porno balamuc, de Rady Jude

Ou Bad Luck Banging or Loony Porn (não há tradução brasileira). Fala sobre uma professora de uma escola sofisticada e as repercussões de um vídeo erótico vazado, que é protagonizado por ela e seu marido. O filme é uma visão satírica maravilhosa sobre a sociedade moderna, sobre sua hipocrisia, falso moralismo e medos absolutos. Um filme imprevisível e engraçadíssimo, apesar de ser capaz de nos deixar sem forças.

Onde assistir: Sem streaming no momento

7 – A Hero, de Asghar Farhadi

Um cinema calcado nas relações humanas e o fato de que, cedo ou tarde, decisões serão tomadas, com consequências para todos os envolvidos. É assim que Asghar Fahardi continua escrevendo histórias em que todos os seus personagens possuem algo a perder – aqui, a sua honra. Uma obra que exala ambiguidade e confronto. Descreve um homem que deixa a prisão por um dia, devolve uma mala de dinheiro que supostamente encontrou na rua e a mídia que isso lhe traz.

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Onde assistir: Amazon Prime, dia 7 de janeiro

6 – È stata la mano di Dio (The Hand of God), de Paolo Sorrentino

Sorrentino, um dos grandes diretores da atualidade, costura a comédia e o drama na vida de um garoto que acaba por descobrir que a vida transita entre os momentos felizes e as perdas que temos que enfrentar. Numa delicada cena, em que as luzes se apagam, Fabietto precisa dizer adeus ao seu passado, a sua juventude e passar a agir como adulto. A direção de Sorrentino nos imerge em múltiplos sentimentos e camadas, como se conhecêssemos cada uma daquelas pessoas, daquelas experiências e daqueles aprendizados.

Onde assistir: Netflix

5 – Roadrunner: A Film About Anthony Bourdain, de Morgan Neville

O documentário emana quem Anthony Bourdain foi antes, durante e depois do sucesso como um chef de cozinha viajando pelo mundo. Com isso, a percepção da essência de Tony se levanta diante de nossos olhos, conseguindo evidenciar os motivos da influência da visão de Tony, sua empatia, sua veia artística, nos mais variados tipos de pessoas. Acaba produzindo o mesmo trajeto do qual Bourdain se utilizou, que ao conhecer o mundo, conheceu a si mesmo. No doc, ao conhecer o trabalho e a escalada de Tony, nós o conhecemos. É um processo tão lindo quanto se imagina.

Onde assistir: Sem previsão

4 – Malignant, de James Wan

Insano, doentio e maravilhoso, a visão repaginada do giallo por James Wan (Invocação do Mal). Aqui, o cineasta muda a sua já conhecida técnica de aparições por uma obra madura a base de luz e sombras. É um thriller incrível, com sequencias de ação espetaculares e que condensa as inúmeras referências de um diretor cuja paixão pelo gênero do terror reflete em sua filmografia. Será um grande clássico do cinema.

Onde assistir: HBO Max

3 – Drive My Car, de Ryusuke Hamaguchi

Apenas siga vivendo. Apenas siga dirigindo. Apenas siga em frente.

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A metáfora dessa obra-prima de Ryusuke Hamaguchi sintetiza a conexão humana com genuinidade, criando momentos poderosos através de pequenas conversas sobre amor, sobre arte e sobre a vida.

Onde assistir: Futuramente no Mubi

2 – Verdens verste menneske (The Worst Person in the World), de Joachim Trier

“Eu estou tão cansado de fingir que está tudo bem. Eu não quero ser apenas uma memória em sua vida ou uma voz que você nunca esqueceu. Eu não quero viver pela minha arte. Eu quero viver minha vida num apartamento com você. Feliz”.

Como basicamente todo filme de Joachim Trier (de Thelma e Oslo, 31 de Agosto), é uma obra madura sobre sexualidade e problemas palpáveis num mundo real. Trier, como de costume, provoca sobre problemas sociais, estabelece o estado de espírito de sua protagonista e povoa sua narrativa com metáforas sobre solidão e autodestruição. O mundo, mesmo que não dito explicitamente na filmografia de Trier, não é um lugar muito agradável de viver. Mas há instantes que fazem valer a pena.

Onde assistir: Sem previsão

1 – Inside, de Bo Burnham

Disponível na Netflix, um documentário-especial-testemunho de um homem preso num apartamento durante a pandemia de coronavírus tentando fazer um novo número de comédia. Contém o processo de autorreflexão de um homem genial. De um pensador contemporâneo. Que apenas escolheu a comédia para nos guiar por sua mente. É uma obra-prima.

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Onde assistir: Netflix

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