A decisão de exonerar o delegado Cláudio Monteiro do comando da Diretoria Estadual de Investigações Criminais, a Deic, pode ser classificada como uma das maiores polêmicas desde que Raimundo Colombo assumiu o governo de Santa Catarina.
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O afastamento de um dos mais destacados membros da Polícia Civil causou espanto tanto na corporação quanto na sociedade, que reagiu via redes sociais. Há cerca de 20 dias, de forma sigilosa e de conhecimento de poucos assessores, a cúpula da Segurança Pública começou a tratar do episódio que culminaria com a exoneração do diretor da Deic.
Os dias seguintes foram marcados por discrição das autoridades com o assunto. A exceção foi o próprio Monteiro, chamado para se explicar no gabinete do secretário de Segurança Pública, César Grubba.
Tudo começou com um dossiê, enviado ao secretário, que tratava de denúncias de que Monteiro teria recebido diárias de uma operação policial de que não participou e que na mesma data viajara a Miami, nos Estados Unidos.
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A partir de então, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) desencadeou uma investigação preliminar interna. A primeira medida foi a consulta ao relatório da viagem policial.
Tratava-se de uma investigação do começo de 2011 sobre o tráfico de drogas na região de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai, de onde vem a maior parte da droga consumida no Estado.
Com a informação do relatório de que Monteiro teria participado da operação, a consulta seguinte foi com a Polícia Federal. Nos dados a partir do seu passaporte, a SSP soube que na mesma data da ação de Ponta Porã ele tinha embarcado numa viagem pessoal a Miami.
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Estava concluído pela secretaria que a suposta denúncia tinha fundamento e que algo estaria errado. Ainda não se sabe de que forma a SSP chegou às informações dos passos de Monteiro, se foi com os seus policiais da inteligência ou a partir de atos da própria cúpula.
Na documentação, constariam notas fiscais e estaria narrado o motivo do trabalho policial. Ao lado do delegado-geral da Polícia Civil, Aldo Pinheiro D?Ávila, o secretário Grubba chamou o então diretor e o ouviu. Grubba afirmou que, na conversa, Monteiro teria admitido o suposto erro.
A decisão final de que Monteiro deveria ser exonerado da direção da Deic e de que os fatos deveriam ser apurados a fundo pela corregedoria saíram apenas na última segunda-feira.
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Mesmo assim, o assunto continuou sigiloso pela cúpula. Coincidentemente, na mesma semana em que Monteiro viria a protagonizar dias de intensa ação policial no Estado e novamente com aparições na mídia, a marca registrada da Deic – uma delas com direito a uma declaração polêmica em recado a criminosos.
A declaração polêmica
Na manhã de terça, Monteiro apresentou, na sede da Deic, três presos num confronto que terminou com a morte de um bandido envolvido com explosão de caixa eletrônico no Estado.
Ao lado do delegado-geral, Monteiro deu um recado para os bandidos: – Se vierem a SC, vão ser presos ou mortos. Porque se vierem para o confronto, nós vamos matar.
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Afastamento torna-se público
O vazamento da exoneração, na manhã de quinta, gerou corre-corre atrás dos motivos da decisão. Monteiro silenciou. Aldo disse lamentar a medida, garantiu que era necessária para apurar as suspeitas e que fora causada por “motivos administrativos”.
O secretário Grubba confirmou a exoneração, apontando como razão o problema das diárias. A notícia da saída surpreendeu a Polícia Civil, pois, até então, a imagem de Monteiro era a de delegado exemplar e de linha dura. Nas redes, milhares de internautas começavam a onda de apoio ao delegado.
Monteiro passou parte da manhã da sexta no escritório do advogado criminalista Cláudio Gastão da Rosa Filho, que propôs defendê-lo e fez a primeira manifestação: garantiu a inocência do delegado, que teria admitido erro administrativo e negado crimes ou ato de corrupção.
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Às 16h40min, por telefone, Monteiro falou ao DC pela primeira vez desde que a exoneração veio a público.
– Eu não sou corrupto. Cometi um erro administrativo. Agora, corrupto eu não sou – desabafou.
Por trás das razões oficiais da exoneração, há especulações sobre desgastes que o policial teria sofrido nos últimos meses com a cúpula da SSP. Elas são tratadas em bastidores, mas, no passado, geraram fatos públicos que colocaram em lados opostos a Deic, chefiada por Monteiro, e a chefia da segurança.
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Mas o secretário César Grubba garante que houve desvio de conduta e isso motivara a exoneração. Os episódios principais que deixaram Monteiro em situação delicada com a secretaria foram a investigação sobre o desvio de peças do pátio da própria SSP em São José e o movimento por reivindicações salariais dos policiais civis, concentrado na Deic.
Também há um outro inquérito que a Deic abriu em torno de suspeitas de irregularidades na Celesc, o que o teria desgastado ainda mais politicamente. O caso das peças gerou mal-estar entre delegados da Deic e a cúpula da SSP no final de 2011 e começo de 2012.
Os policiais constataram que as peças seriam de um lote vendido para destruição numa licitação da SSP, e que principalmente alguns motores de caminhões não poderiam estar lá.
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