Forças do governo da Nicarágua lançaram nesta terça-feira (19) uma forte ofensiva para recuperar o controle da cidade de Masaya, declarada em rebeldia por seus habitantes, que exigem a renúncia do presidente Daniel Ortega.

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Moradores repeliram o ataque das forças de choque e grupos paramilitares com morteiros e escudos improvisados nas ruas de Masaya, 35 km a sudeste de Manágua, constatou uma equipe da AFP.

A diretora-executiva do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), Marlin Sierra, confirmou à AFP pelo menos três mortes na incursão em Masaya e outra no interior do país, elevando para 186 o número de óbitos em dois meses de repressão violenta aos protestos contra o governo.

O secretário da Associação Nicaraguense de Direitos Humanos (ANPDH), Álvaro Leiva, também informou pelo menos 30 feridos em Masaya.

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Um dos líderes da resistência em Masaya, Cristian Fajardo, disse à AFP que caminhonetes com homens armados percorrem a cidade e há tiroteios, mas “estamos levantando barricadas e reforçando a segurança” diante de um possível ataque noturno.

O padre de Monimbo, Augusto Gutiérrez, revelou que as forças de segurança “entraram para deixar munição e alimentos para a polícia (aquartelada) e removeram algumas barricadas”, mas a cidade segue sob o controle dos jovens rebelados.

Sem citar a situação em Masaya, a vice-presidente Rosario Murillo advertiu que o “comandante Daniel (Ortega) está comprometido em deter esta onda terrorista, de crimes de ódio, sequestros, ameaças e intimidação”.

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Em Ticuantepe, a 14 km de Masaya, 37 pessoas ficaram feridas quando a polícia e grupos paramilitares atacaram os bloqueios que eram protegidos por dezenas de jovens.

Rajadas de fuzil foram ouvidas em várias regiões de Masaya durante quase todo o dia.

“Organismos internacionais estão sabendo do ataque a Masaya. Pedimos ao governo da Nicarágua que pare com a repressão e não prejudique mais sua imagem com a comunidade internacional. O governo pode deter um massacre!” – tuitou o arcebispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez.

O ataque aconteceu depois que a Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN) suspendeu o diálogo até que o governo inclua a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos e a União Europeia (UE) para investigar as ações de violência.

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“Este governo tem que demonstrar vontade política. Isso não é um jogo, isso é sério para o futuro da Nicarágua. Aqui não se pode continuar assassinando mais pessoas”, declarou o arcebispo Báez.

O governo e Aliança Cívica pela Justiça e Democracia acordaram na sexta-feira convidar os organismos internacionais a ajudar a investigar a situação de violência.

Mas a aliança opositora, que agrupa empresários, estudantes e outros grupos da sociedade civil, retirou-se da mesa de diálogo na segunda-feira, após criticar o governo por não cumprir com esse acordo.

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O chanceler Denis Moncada, chefe da delegação oficial, alegou razões “burocráticas” para não ter feito os convites, disse Carlos Tünnerman, delegado da sociedade civil nas negociações.

Os participantes tinham previsto discutir a suspensão dos bloqueios das estradas, o adiantamento das eleições de 2021 para março de 2019 e reformas no judiciário.

Após a suspensão da reunião, o governo divulgou uma declaração na qual se distanciou da repressão e disse ter proposto à oposição “trabalhar para alcançar acordos verificáveis de segurança, paz e reconciliação”.

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Durante uma sessão do Conselho de Direitos Humanos em Genebra, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, condenou a violência na Nicarágua e pediu ao governo que cumpra com os compromissos.

* AFP