Não tivesse morrido em 1999, Tibor Reisner sentaria na primeira fila de cadeiras na Harmonia-Lyra, hoje à noite. De seu assento, provavelmente arriscaria uma tímida execução com as mãos, com se ajudasse a pupila Fabricia Piva a reger o conjunto de músicos a sua frente. Na mente, flashes em que ele próprio, magnânimo, comandava violinos, tubas, pratos e violoncelos em concertos hoje históricos em Joinville. E abriria um sorriso de satisfação, bem como de alívio. Afinal, a luta travada para que a cidade voltasse a ter uma orquestra foi longa, árdua e, por vezes, desanimadora – mas, como se verá logo mais, recompensadora também.

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A primeira apresentação oficial da Orquestra Cidade de Joinville representa, assim, não o ponto final, mas o recomeço de uma história interrompida em 1996, quando a orquestra do maestro Tibor, então mantida pela Prefeitura, foi desativada. Nos oito anos seguintes, a música erudita continuou ecoando pelo munícipio, mas sempre com a sensação de que algo faltava.

– Aconteceram vários movimentos artísticos relevantes, mas sempre individuais e que não representavam a cidade – relembra Fabricia, violinista que, após os anos com o maestro Tibor, pegou a estrada, mas nunca se desvencilhou do cenário joinvilense. A ela, afinal, estava reservada uma grande missão.

Em 2004, a presença de maestros importantes na cidade, todos com projetos imponentes e milionários, reacendeu a discussão sobre uma orquestra bancada com recursos municipais. A associação de músicos liderada pelo multi-instrumentista e empresário José Mello bateu insistemente na tecla junto à Câmara de Vereadores. Até que em 2012 se criou a lei que instituía a criação da Orquestra Cidade de Joinville, que começou a ser estruturada pelo maestro Gustavo Fontes, de Florianópolis.

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Com a troca de governo, Fabricia – maestrina formada e professora da Escola de Música Villa-Lobos – assumiu a missão. Desenvolveu o regimento e criou o edital de seleção de músicos, finalmente lançado em outubro. Setenta instrumentistas de diferentes cidades responderam ao chamado, dois quais 31 foram escolhidos e começaram os ensaios em janeiro. No repertório eclético, cabem tanto os eruditos Wagner e Schubert quanto o roqueiro Led Zeppelin e o “choroso” Pixinguinha. Deste, foi escolhido Carinhoso para ter no palco o maestro Mello, o homenageado do concerto de estreia por sua luta incansável em prol da orquestra.

– É um grande ganho cultural, uma motivação para a música e para a cidade em si. É um marco para Joinville – exulta o orgulhoso benfeitor.

Para que esse marco efetivamente se concretize, três ações estão em curso. A primeira delas é garantir apresentações regulares, além daquela mensal (garantida por lei) em eventos da Prefeitura. A segunda é a formação de uma nova geração de músicos. Dos 31 músicos do grupo, 21 também terão a função de coordenar oficinas a iniciantes e instrumentistas de nível intermediário, selecionados por edital, que futuramente integrarão a Orquestra Jovem. Serão oferecidas 110 vagas, e as inscrições ficarão abertas de 31 de março a 4 de abril, na Fundação Cultural. O terceira movimento é a criação da Associação Amigos da Orquestra Cidade de Joinville, presidida pelo spalla Gilson Pohl, pela qual se buscará outros apoiadores para o grupo.

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Serviço

O quê: estreia da Orquestra Cidade de Joinville.

Quando: hoje, às 20 horas e 21 horas.

Onde: Sociedade Harmonia-Lyra, rua 15 de Novembro, 485, Centro.

Quanto: gratuito. Não há mais ingressos disponíveis.