Com 42 praias em Florianópolis, a história dos nomes de cada uma delas é fabulosa. Algumas têm nomes mais óbvios, claro – como a Praia Mole, batizada em função da areia macia e “molenga”; ou a Barra da Lagoa, que ganhou seu nome por ser o local onde a Lagoa da Conceição (que, na verdade, é uma laguna) desemboca. 

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Mas de onde vêm nomes como Armação, Jurerê, Ingleses ou Naufragados, por exemplo? Listamos dez praias da cidade que têm nomes com origens curiosas. Confira:

Armação e Matadeiro

A palavra “armação” se refere às armações baleeiras, instalações litorâneas voltadas para a caça às baleias; normalmente compostas de casas para ferramentas de pesca, armazéns para os produtos das baleiras e o engenho de frigir, onde a gordura das baleias é trabalhada. Em Santa Catarina, há várias praias com nomes que levam essa palavra: Armação dos Ganchos, Armação da Piedade, Armação do Pântano do Sul.

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– O óleo de baleia era um produto nobre, enviado até mesmo para a Europa, para uso em iluminação pública – explica Rodrigo. – Parte desse óleo, extraído da gordura da baleia, também era usado na finalização de construções, geralmente públicas. A Catedral de Florianópolis tem o óleo na finalização. O óleo também foi provavelmente usado como liga na construção das fortalezas da Ilha.

Ao lado da Praia da Armação, está a Praia do Matadeiro (foto principal), justamente onde as baleias eram caçadas e mortas – um costume que perdurou, infelizmente, até os anos 1970.

– Por ser uma pequena baía, era para ali que as baleias eram atraídas – conta Rodrigo. – Os filhotes eram caçados, às vezes com dinamite, às vezes com arpões; e as mães vinham atrás dos filhotes e encalhavam, aí eram mortas também. A água ali no Matadeiro às vezes ficava vermelha de sangue.

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Naufragados

Duas situações referentes a naufrágios marcam a história dessa praia; uma área de navegação complicada. A mais antiga data de 1516: foi nessa região que aconteceu o naufrágio dos primeiros europeus que passaram pela Ilha, e que ficaram conhecidos como Náufragos de Solís.

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Duas situações referentes a naufrágios marcam a história da praia de Naufragados
Duas situações referentes a naufrágios marcam a história da praia de Naufragados (Foto: Leo Cardoso)

– Juan Díaz de Solís é considerado o descobridor do Rio da Prata – Rodrigo narra. – Ele foi morto no Uruguai; e depois disso três embarcações de sua expedição voltaram para a Europa. Uma delas ficou para trás e naufragou ali na região onde hoje é Naufragados. Entre os Náufragos de Solís estava Aleixo Garcia, considerado o primeiro homem branco a chegar ao Império Inca: ele foi a pé até os Andes, usando uma trilha histórica que começa onde hoje é Palhoça.

O acontecimento que provavelmente batizou a praia, porém, é mais recente: aconteceu por volta de 1750, quando mais de 100 pessoas morreram no naufrágio de um navio de imigrantes açorianos.

Campeche

A passagem do escritor francês Antoine de Saint Exupery pelo Campeche nos anos 1920 é famosa: ruas com o nome do escritor e do livro são inclusive encontradas no bairro. A história deu origem a uma espécie de lenda sobre o nome da região: Exupery teria começado a chamar o local de “campo de peixes” em francês, o que teria sido abrasileirado pelos locais até chegar à palavra “campeche”.

A versão mais realista e mais provável para o nome da Praia do Campeche remete ao pau-campeche
A versão mais realista e mais provável para o nome da Praia do Campeche remete ao pau-campeche (Foto: Diorgenes Pandini)

A versão mais realista e mais provável, porém, remete ao pau-campeche, planta com propriedades medicinais e de madeira corante que era encontrada em abundância na Ilha do Campeche – que, por sua vez, batizou a praia.

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Moçambique

A praia de maior extensão de Florianópolis é muito associada, claro, ao país africano de mesmo nome – inclusive porque, na região, houve de fato um quilombo.

A praia de maior extensão de Florianópolis é muito associada, claro, ao país africano de mesmo nome
A praia de maior extensão de Florianópolis é muito associada, claro, ao país africano de mesmo nome (Foto: Diane Bikel/NSC Total)

– Mas na verdade, segundo diz a tradição manezinha, “moçambique” era outro nome dado às tatuíras; aquele bichinho da areia que parece uma baratinha albina cascuda – ri Rodrigo. – E veio daí o nome da praia.

Sambaqui e Cacupé

Sambaqui” vem de “tambaqui”, é uma palavra tupi-guarani que se refere a um amontoado de conchas.

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– Os sambaquis são espécies de cemitérios; e Santa Catarina tem alguns dos maiores do Brasil. Joinville, Jaguaruna, São Francisco do Sul, Laguna também têm sambaquis – diz Rodrigo. – Tanto que a gente tem o Museu do Homem do Sambaqui. Os responsáveis por deixar os sambaquis foram nossos primeiros habitantes, que viveram aqui há cerca de seis mil anos.

“Sambaqui” vem de “tambaqui”, é uma palavra tupi-guarani que se refere a um amontoado de conchas (Foto: Tiago Ghizoni)

– “Cacupé” também é uma palavra tupi-guarani, e significa algo como “lugar verde atrás da montanha” – completa o guia. – É como se você olhasse a partir de Santo Antônio de Lisboa para o lugar atrás da montanha, que é Cacupé.

Santo Antônio de Lisboa

– O nome de Santo Antônio de Lisboa se refere à fé de dona Clara de Avelar, de uma família tradicional da região, muito devota do santo – explica Rodrigo. – Ela colocou dinheiro e doou o terreno para a construção da Igreja de Nossa Senhora das Necessidades, que era o nome da freguesia à época. Foram três freguesias fundadas em torno de 1750. Para haver uma freguesia, precisava haver uma intendência, que era o “braço” da Coroa portuguesa na região; e na época as cidades cresciam em torno da praça da igreja.

O nome de Santo Antônio de Lisboa se refere à fé de dona Clara de Avelar, de uma família tradicional da região, muito devota do santo
O nome de Santo Antônio de Lisboa se refere à fé de dona Clara de Avelar, de uma família tradicional da região, muito devota do santo (Foto: Tiago Ghizoni)

Jurerê

Uma das praias mais tradicionais da Ilha de Santa Catarina. O que não se sabe é que nem sempre ela foi conhecida como Praia de Jurerê. Seu primeiro nome, segundo a Secretaria de Turismo de Florianópolis, foi Praia da Ponta Grossa, local visto como um dos pontos de defesa da cidade, no plano do Brigadeiro José da Silva Paes, primeiro Governador da Capitania de Santa Catarina.

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A praia de Jurerê é uma das mais conhecidas da cidade
A praia de Jurerê é uma das mais conhecidas da cidade (Foto: Daniel Babinski/Divulgação)

A praia passou a se chamar Jurerê após um grande desenvolvimento urbanístico. O nome é referência a uma imobiliária, responsável pelo primeiro plano de loteamento desta praia, em 1955.

Os impactos imobiliários tornaram o bairro um centro turístico internacional. Apesar disso, o nome Jurerê era dado à Ilha pelos Carijós: Y-Jurerê-Mirim. O nome significa Boca d’agua, e faz relação ao estreito central, que a separa do continente.

Ingleses

Uma embarcação inglesa, possivelmente pirata, naufragou na praia no século XVII, o que rendeu o nome ao bairro: o barco foi encontrado em 1989, na ponta direita da praia, inclusive com louças, ossos, balas de canhão. E existe uma teoria interessante cercando o navio: o de que este seria o barco a bordo do qual os piratas que assassinaram Francisco Dias Velho, fundador do povoado de Nossa Senhora do Desterro, tentaram fugir da Ilha.

Uma embarcação inglesa, possivelmente pirata, naufragou na praia no século XVII, o que rendeu o nome ao bairro
Uma embarcação inglesa, possivelmente pirata, naufragou na praia no século XVII, o que rendeu o nome ao bairro (Foto: Diane Bikel/NSC Total)

O navio a bordo do qual estavam os piratas aportou na Beira-mar Norte, então chamada Praia de Fora, em 1687, sendo expulso por Dias Velho e seus homens. Os piratas, porém, voltaram no meio da madrugada, rendendo a população do povoado e matando Dias Velho. 

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