A quarta parte do especial sobre grandes cinematografias do século 21, que ZH apresenta ao longo de oito semanas até o fim de fevereiro, propõe um mergulho no desconhecido. Camboja, Vietnã, Indonésia, Malásia e, sobretudo, Tailândia e Filipinas constituem cinematografias cada vez mais presentes nos grandes festivais – mas ainda enigmáticas para as plateias ocidentais.
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Você não estará sozinho se disser que desconhece o cinema de Tailândia, Camboja, Vietnã e Filipinas. Até para os cinéfilos mais viajados a produção desses países constitui um mistério a ser desvendado. Ao menos há portas escancaradas para se adentrar no desconhecido. São elas os filmes de Brillante Mendoza (Lola, Kinatay, Serbis, Em Nome de Deus), Rithy Panh (S-21, As Pessoas de Angkor, A Terra das Almas Errantes) e Apichatpong Weerasethakul (Eternamente Sua, Mal dos Trópicos, Síndromes e um Século, Tio Boonmee que Pode Recordar suas Vidas Passadas).
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Premiados nos maiores festivais, esses cineastas percorrem caminhos bem distintos entre si. Panh é responsável por um cinema de raiz documental e caráter político, enquanto Mendoza assina ficções realistas com dramaturgias poderosas, personagens complexos e, invariavelmente, atuações impactantes. Weerasethakul, com seu cinema místico e sensorial, é um dos autores mais originais do cinema contemporâneo.
Não vai-se tentar, aqui, um amplo mapeamento da produção desta região, até porque essa produção também é significativamente obscura para este escriba. Isso inclui parte dos filmes do Top 10 ao lado, elaborado com alguns títulos não vistos que, no entanto, despontam como expoentes dessas cinematografias para além do trio citado – Pae-Ek Ratanaruang encaminha uma carreira internacional com o longa de ação Headshot (2011); Gareth Evans é um nome de culto com o sucesso do ultraviolento Operação Invasão (2011); Tan Chui Mui (de O Amor Conquista Tudo) foi premiado no Festival de Roterdã; Minh Nguyen Vo (Buffalo Boy), nos de Locarno, Chicago e Palm Springs.
O que se pode dizer com certeza é que países como Filipinas e Tailândia têm longa tradição audiovisual. Ambos tiveram sólidas indústrias nos anos 1970 e 80, sobretudo com produções que alimentavam as grades das TVs locais. Sufocado por Hollywood, em maior escala, e Bollywood (a indústria da Índia), em menor (bem menor), o cinema desses países sucumbiu para só retornar recentemente. Com outra pegada: são os títulos autorais que chamam a atenção internacional – o fantástico Tio Boonmee, de Weerasethakul, e o drama moral Kinatay, de Mendoza, foram premiados em Cannes, mas provocaram debates entre quem os chamou de obra-prima e quem contestou seus radicalismos formais.
Também têm feito barulho, entre outros, os malaios Woo Ming Jin (O Elefante e o Mar) e Yasmin Ahmad (Mukhsin). E, ainda, os filipinos Adolfo Alix Jr. (Donsel), Raya Martin (Independência) e Lav Diaz (diretor de filmes de até oito horas de duração, como Melancolia, que foi exibido em Porto Alegre). Sem falar no franco-vietnamita Hung Tran Anh, autor de sucessos da década de 1990 como O Cheiro do Papaia Verde que, em 2010, lançou o triste e bonito Norwegian Wood, rodado em Tóquio a partir do livro do japonês Haruki Murakami, que por sua vez faz referência à canção homônima dos Beatles. Global e contemporâneo, como a melhor produção deste Oriente Exótico após a virada do milênio.
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Top 10
Filmes do oriente exótico pós-anos 2000:
S-21 – A Máquina de Morte do Khmer Vermelho, de Rithy Panh (Camboja, 2003)
Last Life in the Universe, de Pen-Ek Ratanaruang (Tailândia, 2003)
Mal dos Trópicos, de Apichatpong Weerasethakul (Tailândia, 2004)
Buffalo Boy, de Minh Nguyen Vo (Vietnã, 2004)
O Amor Conquista Tudo, de Tan Chui Mui (Malásia, 2006)
Wonderful Town, de Aditya Assarat (Tailândia, 2007)
Melancolia, de Lav Diaz (Filipinas, 2008)
Kinatay, de Brillante Mendoza (Filipinas, 2009)
Norwegian Wood, de Hung Tran Anh (Vietnã, 2010)
Operação Invasão, de Gareth Huw Evans (Indonésia, 2011)
14/01 Leste Europeu
21/01 Universo Nórdico
28/01 Oriente Exótico
3/02 América Central
10/02 União das Ex-Repúblicas Soviéticas
17/02 Mundo Ibérico
24/02 Mediterrâneo Oriental