Uma orientadora da Escola de Educação Básica de Muquém, no Rio Vermelho, em Florianópolis, afirma estar sofrendo ataques e ameaças de pais de alunos, que a acusam de “doutrinação” de alunos.
Juliana Andozio está afastada por questões de saúde desde 4 de maio. Nesta data, ela teria sofrido o que aponta como o mais recente ato de perseguição. Segundo a orientadora, pais de alunos teriam atirado ovos contra o carro dela e até dispararam fogos de artifício em direção à escola.

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A orientadora alega que não houve um fato específico que desencadeou os ataques, mas eles teriam começado em outubro do ano passado, no período das eleições. Na ocasião, ela teria registrado o primeiro boletim de ocorrência contra uma mãe que teria agredido verbalmente a educadora.

Naquele período, conta Juliana, os pais a acusavam de “doutrinação ideológica” e de ter utilizado linguajar inadequado chamando alguns alunos de machistas e homofóbicos. A coordenadora nega.

O Estado recebeu queixas de pais e abriu um processo administrativo disciplinar (PAD), o que fez a educadora ficar afastada por 60 dias. Ao fim da análise, ela foi suspensa por 15 dias. Segundo Juliana, a punição não teria relação com os fatos denunciados por pais, mas se deveu a uma metáfora utilizada para explicar a alunos o serviço do Disque 100 (canal de denúncias de violações de direitos humanos) e ao fato de ter utilizado uma camisa do sindicato da categoria na escola.

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No período de afastamento, ela afirma que os pais teriam a acusado de outras situações, como promover “ideologia de gênero” e criar “banheiros unissex” — acusações falsas, segundo a professora.

Ao fim da suspensão, no fim de abril, a orientadora tentou retomar a atuação na escola, mas alega que teria voltado a sofrer perseguição de pais.

O caso ocorrido no início de maio chegou a ser gravado por alguns pais. Vídeos que circulam entre moradores mostram gritos de revolta e o carro da orientadora deixando a escola sob proteção da Polícia Militar.

Juliana conta que pede anulação da decisão da Secretaria de Estado de Educação no processo administrativo. por não haver comprovação dos fatos, e diz que também denunciou o caso à Polícia Civil.

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Ela diz gostar da escola e que aguardava por uma possível mediação, o que não ocorreu. Por enquanto, o receio tem predominado.  

Escola repudia agressões

A escola de Muquém divulgou nota nas redes sociais em que explica parte das acusações feitas por pais e as apurações feitas pelo Estado, que permitiram à profissional retornar às atividades ao fim de abril. “Portanto, não há nenhuma verdade nas acusações sobre a atuação da orientadora escolar, nem qualquer motivo que a impeça de exercer seu trabalho na escola”, defendeu a instituição em um trecho do texto.

Um dia depois, nova nota da escola manifestou repúdio às agressões verbais e ao patrimônio sofridas por servidores da escola. “Para que possamos fazer nosso trabalho num ambiente de diálogo e respeito mútuo, como tem sido a atuação de nossa escola, em prol de toda a comunidade escolar (…), precisamos que toda essa onda de desrespeito, calúnia e difamação tenha fim”, pede um trecho da nota.

Apoiadores da orientadora também chegaram a entregar um relatório do caso ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, durante visita dele a Florianópolis, em abril.  O sindicato dos professores do Estado de SC também divulgou nota contra os ataques sofridos por educadores.  

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A reportagem tentou contato com pais de alunos da unidade de ensino para detalhar as queixas contra a educadora, mas não obteve retorno. Nossa equipeapurou que supostas falas racistas, políticas e uma polêmica sobre o uso dos banheiros da escola estariam entre as acusações dos pais críticos da orientadora.  

Veja vídeo de uma saída da orientadora da escola

Estado e MP confirmam investigações

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado da Educação (SED) divulgou uma nota em que informa que a equipe multidisciplinar do núcleo de proteção, prevenção e atendimento às violências nas escolas (Nepre) está visitando e dialogando com a comunidade escolar da escola para “sanar as problemáticas da unidade”.

Sobre a orientadora, o Estado confirma que, em razão de denúncias recebidas, foi instaurado um processo administrativo, que a garantiu ampla defesa e resultou na suspensão de 15 dias. O conteúdo das denúncias incluídas no processo, no entanto, é sigiloso, segundo a pasta.

A portaria que instaurou o processo disciplinar contra a professora, de 23 de fevereiro deste ano, aponta que o procedimento iria apurar a conduta da servidora por suposta falta ética profissional utilizando “linguajar que não condiz com a função de Orientadora Educacional, fazendo doutrinação político/partidária e referindo-se aos alunos como: homofóbico e machista”.

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“A Secretaria salienta que preza pelo ambiente de paz nas escolas e que a servidora pode ser transferida para outra unidade escolar, caso solicite à coordenadoria regional de educação”, conclui a nota enviada pela Secretaria de Estado da Educação.

O Ministério Público de Santa Catarina também recebeu informações sobre possíveis ocorrências na escola. À reportagem do NSC Total, o órgão confirmou que instaurou um procedimento e apura a situação. No entanto, o teor das acusações não foi informado “(…) decorrente da sensibilidade do tema, que tem aspecto sigiloso”, segundo a nota do MPSC.

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