O vídeo de um comandante rebelde da Síria arrancando e mordendo o coração de um soldado leal a Bashar al-Assad chocou tanto a oposição quanto o regime do país. O registro é emblemático de uma guerra civil que rapidamente se rebaixou a um conflito sectário marcado por mortes por vingança, afirmou a organização americana Human Rights Watch em uma nota.
Continua depois da publicidade
A organização baseada em Nova York afirma que o vídeo, postado na internet no domingo, mostra Abu Sakkar, fundador da facção rebelde Brigada Farouq – figura conhecida pela na cidade de Homs – cortando o torso do oficial morto.
– Juro por deus que comeremos seus corações e seus fígados, soldados de Bashar, o cão – o homem diz, sob aplausos e gritos de “Deus é grande” de seus correligionários.
Peter Bouckaert, da Human Rights Watch, afirmou ter visto uma cópia sem edição do vídeo, e garante que a identidade de Abu Sakkar foi confirmada por fontes de oposição em Homs e comparadas a outras imagens dele em vídeos em que veste a mesma jaqueta preta usada nas imagens, com os mesmos anéis em seus dedos.
– A mutilação de corpos de inimigos é um crime de guerra. Mas o problema mais sério é a rápida escalada em direção à retórica sectária e à violência – afirmou Bouckaert à agência de notícias Reuters.
Continua depois da publicidade
O vídeo que mostraria Abu Sakkar é sintomático da mistura de brutalidade e tecnologia no campo de batalha sírio. De acordo com rebeldes entrevistados pela revista americana Time, combatentes dos dois lados não se furtam a apenas se gabar sobre seus feitos, eles os filmam e compartilham, competindo em sombrios jogos de dominação.
A troca de “atrocidades-troféu”, encenada para as câmeras e passada de celular a celular, tem um efeito aniquilante, de acordo com declaração à Time de Rami Abdel Rahman, do Observatório Sírio de Direitos Humanos. Quando um garoto de 13 anos é filmado degolando um homem e quando gravações de estupro, tortura e amputações são repassadas como cartões de troca, fazem aumentar o ciclo da vingança por honra, como se cada atrocidade, tão publicamente compartilhada, demandasse uma resposta do lado oposto, de acordo com Nadim Houry, da Human Rights Watch:
– Quando pessoas veem esses atos de brutalidade e mutilação, isso deixa profundas cicatrizes, e haverá uma tentação de replicar tais atos por vingança – diz Peter Bouckaert, da Human Rights Watch – Olho por olho, dente por dente. Uns tantos combatentes na Síria interpretam essa afirmação literalmente.
Rahman afirma que vídeos violentos aparecem com cada vez mais frequência:
– Vi centenas de vídeos vindos dos dois lados – disse ele à Time – eles cortam membros e cabeças. Eles arrancam corações e fígados, orelhas e línguas. Eles cortam partes privadas e as colocam em lugares. É anormal. Não é humano o que está acontecendo.
Continua depois da publicidade
EUA e Grã-Bretanha aumentarão pressão sobre Bashar al-Assad
Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha decidiram “aumentar a pressão” sobre o presidente sírio, Bashar al-Assad, para que deixe o poder, afirmou ontem o presidente Barack Obama ao lado do primeiro-ministro David Cameron.
– Juntos, nós iremos continuar com nossos esforços para aumentar a pressão sobre o regime de Assad, fornecer ajuda humanitária aos sírios, reforçar a ajuda à oposição moderada e preparar o caminho para uma Síria democrática sem Bashar al-Assad – afirmou Obama em entrevista coletiva conjunta com Cameron.
O premier britânico pediu que a comunidade internacional saia da paralisia provocada pelas divergências entre as potências ocidentais e a Rússia.
Três dias depois de ter se reunido com o presidente russo, Vladimir Putin, que apoia o regime de Assad, o primeiro-ministro britânico ressaltou que “a história da Síria está sendo escrita com o sangue de seu povo”
Continua depois da publicidade
– É preciso que o mundo chegue a um acordo para acabar com a carnificina. Nenhum de nós tem interesse em ver vidas perdidas, armas químicas sendo utilizadas e a violência ligada ao extremismo se estender – declarou.
Obama seguiu a mesma linha e estimulou Moscou a avançar em sua posição.
– Na posição de líder no cenário internacional, a Rússia tem um interesse, e também uma obrigação, de tentar resolver este problema de modo que atinja o resultado que desejamos a longo prazo – insistiu.