¿É um pouco diferente para mim participar na condição de escritor, mas fico encantado quando vejo as pessoas que gostam do meu trabalho, pois a internet é um lugar um pouco mais frio, onde tudo é quantificado¿. É com essas palavras que o paulista Zack Magiezi define o prazer de participar de eventos literários como a Feira do Livro de Joinville, de cuja 14ª edição, em junho, ele será um dos convidados de maior apelo.
Continua depois da publicidade
Não é para menos: desde 2014, quando criou o perfil Estranherismo no Facebook, ele não para de acumular leitores/fãs com versos curtos e potentes a respeito do que vai no coração, passando dos 900 mil seguidores no Instagram. O interesse por suas tiradas sentimentais batidas na máquina de escrever motivou esta entrevista exclusiva de Magiezi para a coluna.
A que você atribui tanto interesse nas redes sociais?
Zack Magiezi – Nada foi planejado e, para ser bem sincero, eu não sei te explicar exatamente o motivo que levou o perfil a ter esse nível de crescimento. Talvez seja o paradoxo, pois estou na rede que fala somente do exterior falando das coisas de dentro usando uma máquina de escrever em uma terra de iPhones. Talvez as minhas palavras já tenham passado pelos corações de muitas pessoas antes de visitarem o papel. Eu não sei o motivo e sou grato por isso.
E por quê a máquina de escrever?
Continua depois da publicidade
Zack – O Instagram é uma rede de imagens, eu nunca soube mexer em programas gráficos para criar uma arte que comportasse o texto. Um dia, um amigo me deu a minha primeira máquina de escrever, bati o texto, tirei uma foto do papel e continuo assim até hoje. Hoje vejo uma poética nisso, uma máquina antiga, que fala de sentimentos antigos em um lugar de modernidade. A máquina de escrever tem um diferencial que me torna dependente; ela só serve para escrever, eu não consigo entrar no Facebook, não há distrações. Ela me traz uma solidão que eu amo.
Sua forma de escrever, em frase curtas e impactantes, tem algo do seu eu publicitário?
Zack – Na verdade não. Comecei a escrever antes de trabalhar em uma agência. Entendi que esse é o formato que a plataforma me permite, pois as pessoas têm pressa, estão indo para o trabalho ou estão no mesmo. Minha ideia é o nocaute.Esse tanto de coração partido, amores desajustados, desilusão nos seus versos… É experiência própria ou influência dos autores que você admira?Zack – Só existem dois grandes temas na literatura: o amor e a morte. Acredito muito na humanização do amor, na vulnerabilidade, na dor. Quero falar da beleza da rosa e também dos seus espinhos. O que eu escrevi é sempre algo meu, seja algo que vivi ou quis ter vivido, algo que eu gostaria de ter dito e até histórias que eu escuto, que por entrarem dentro dos meus ouvidos se tornam minhas histórias também.
Teria a sua poesia encontrado ressonância nesse mundo em que as pessoas se sentem meio vazias, solitárias, desesperançadas?
Zack – É algo que sempre me perguntei, mas como sempre estou interrogando as minhas certezas, será? Tenho conhecido muitas pessoas carinhosas sedentas por uma vida melhor e mais sensível. Talvez as pessoas estejam redescobrindo o que verdadeiramente importa, depois dessa corrida louca por coisas, por perfeição, pela beleza. As pessoas querem descansar em um clichê. Uma vida simples, um amor, uma família e um cão. Estamos novamente buscando os pequenos prazeres, celebrando a vida. Tenho esperança que o meu trabalho seja um sino que lembre as pessoas disto.
Continua depois da publicidade
Com a internet (e suas redes sociais), o escritor ainda precisa de editora, livraria, estantes físicas?
Zack – Claro que sim, as livrarias são sagradas. E a editora me permite continuar com o meu maior sonho que é continuar escrevendo. Acho que agora elas estão percebendo esse movimento em torno das redes sociais e abrindo espaço para novos escritores. Nada irá substituir o livro e a internet veio como uma grande aliada que pode ajudar o Brasil a ler mais. Recebi muitas pessoas que começaram a ler Manoel de Barros porque um dia eu disse que é o meu poeta favorito, então também tenho uma função social. Talvez o que eu esteja fazendo com os meus escritos seja abrir uma porta para que as pessoas possam se interessar mais por literatura.