*Ricardo Della Coletta
Um dia após uma operação policial ordenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ter atingido empresários, políticos e ativistas bolsonaristas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou a investigação e disparou queixas contra a Corte.
Continua depois da publicidade
– Não teremos outro dia como ontem (27/05), chega – disse, na saída do Palácio da Alvorada, em declaração transmitida pela rede CNN Brasil. – Querem tirar a mídia que eu tenho a meu favor sob o argumento mentiroso de fake news.
Em outro trecho, Bolsonaro afirmou ter em mãos as "armas da democracia". E disse que "ordens absurdas não se cumprem" e que "temos que botar limites". Quando os repórteres que estavam no local tentaram questioná-lo a que ordens estava se referindo, o mandatário se recusou a responder, disse que não estava concedendo uma entrevista e que os profissionais poderiam ir embora se não quisessem ouvi-lo.
Um dia antes a PF cumpriu 29 mandados de busca e apreensão nesta quarta-feira no chamado inquérito das fake news, que apura ofensas, ataques e ameaças contra ministros do Supremo. Políticos, empresários e ativistas bolsonaristas estão entre os alvos da investigação.
Continua depois da publicidade
Na fala desta quinta-feira (28), o presidente adotou um tom duro contra o inquérito das fake news que corre no tribunal, embora não tenha citado em nenhum momento o ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo procedimento que apura ofensas, ataques e ameaças contra integrantes do STF.
> Hang é alvo de operação da PF contra fake news e tem celulares apreendidos
O mandatário disse que o termo "gabinete do ódio" (apelido dado a um grupo de servidores lotados na Presidência da República que atuaria na disseminação de notícias falsas e no ataque a reputações de autoridades) foi "inventado" e defendeu enfaticamente a rede de apoio que tem nas mídias sociais.
– Mais um dia triste na nossa história. Mas o povo tenha certeza, foi o último. Queremos paz, harmonia, independência e respeito. E democracia acima de tudo. A liberdade de expressão é algo sagrado entre vocês [imprensa] e também entre a mídia alternativa. Não podemos ficar apenas tendo a nossa disposição um lado, a tradicional ou a mídia social. Os dois lados vão conviver. Idiotas inventaram [a expressão] gabinete do ódio. Outros imbecis inventaram matérias disso e lamento julgamento em cima disso – afirmou.
> Hang, Roberto Jefferson, Allan Santos: quem são os alvos da operação contra fake news
Referindo-se ao inquérito, Bolsonaro afirmou ainda que um processo não pode começar "em cima de factoides e fake news". Para Bolsonaro, a ação da PF ordenada pelo Supremo foi uma "invasão de casas de pessoas inocentes", o que é "inadmissível".
Continua depois da publicidade
– Ontem trabalhamos o dia todo numa coisa, ouvindo quem teve sua propriedade privada violada. São chefes de família, homens mulheres, que foram surpreendidos pela Polícia Federal, que estava cumprindo ordens – declarou.
Em um dos trechos mais exaltados de sua fala na manhã desta quinta, quando não permitiu perguntas de jornalistas que estavam no local, Bolsonaro gritou:
– Acabou, porra!.
Na decisão em que autorizou a Polícia Federal (PF) a cumprir mandados de busca e apreensão contra os alvos do inquérito das fake news, Moraes diz, com base nos relatos de congressistas, que os investigados teriam ligações com o chamado "gabinete do ódio".
Moraes citou os depoimentos dos deputados federais Joice Hasselmann (PSL-SP), Alexandre Frota (PSL-SP) e Heitor Freire (PSL-CE), que descreveram um suposto esquema coordenado pelo Palácio do Planalto para propagar pautas inconstitucionais e campanhas de difamação contra adversários políticos.
Continua depois da publicidade
O jornal Folha de S.Paulo mostrou, em 25 de abril, que as investigações identificaram indícios de envolvimento de um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro, no esquema de notícias falsas. Investigadores buscam elementos que comprovem sua ligação. Outro filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PSL de SP, também é suspeito.
Ainda na noite de quarta-feira (27), Eduardo criticou as decisões recentes dos ministros do STF Alexandre de Moraes e Celso de Mello. Em live ao lado de alvos da ação do Supremo, ele defendeu reagir energeticamente contra a corte.
– Temos de pontuar, diagnosticar o problema e depois começar a tomar algumas atitudes – afirmou o deputado.