O primeiro-ministro húngaro Viktor Orban, um ultranacionalista de direita, conseguiu sair de seu isolamento diplomático e impor na agenda da União Europeia (UE) suas polêmicas alternativas em matéria de imigração e controle de fronteiras.
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A revista americana Time nomeou como personalidade do ano a chefe de governo alemã Angela Merkel. Mas a revista Politico, com sede em Bruxelas, designou Viktor Orban, seu oposto, como o europeu mais influente de 2015.
O chefe de governo ultraconservador húngaro conseguiu, argumenta a Politico, “tornar o debate sobre a maneria de receber os refugiados um debate sobre a maneira de frear sua chegada”.
“É um lindo presente de fim de ano”, que prova que “Orban estava certo” ao propor construir uma “Europa fortaleza”, afirma Gyorgy Schopflin, eurodeputado do partido Fidesz, do primeiro-ministro húngaro.
A revista suíça “Die Weltwoche” consagrou recentemente sua capa a Orban, definindo-o como “o defensor da Europa”. E a revista austríaca de centro-esquerda Profil se preguntava no final de setembro, num dossiê sobre a crise migratória: “Que parte de Orban existe em cada um de nós?”.
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Orban recebeu seu maior reconhecimento em setembro, quando foi convidado a participar de discussões com a CSU, a formação aliada de Merkel na Baviera, que se distanciou, contudo, da chanceler por causa de sua política de amplo acolhimento de refugiados.
“Orban não estava de todo errado” ao pregar com veemência a defesa das fronteiras europeias, observava algumas semanas depois o conservador Reinhold Mitterlehner, número dois do governo austríaco.
Um reconhecimento inesperado para o líder húngaro, alvo de críticas de seus pares europeus e de organizações humanitárias por ter dado ordens de impedir que os imigrantes que iam rumo à Alemanha e Europa do Norte passassem pela Hungria, mandando fechar as fronteiras com Sérvia e Croácia com centenas de quilômetros de cercas de arame.
– Um terceiro mandato? –
Orban não vacilou em recorrer a uma retórica que incomodou uma Europa construída em valores humanistas e liberais. Chamou, por exemplo, de “criminosos” os refugiados, grande parte dos quais fogem das guerras civis de Síria e Iraque, e afirmou que representam “um perigo” para a civilização cristã.
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Mas para Tomas Lanczi, analista do instituto pró-governamental húngaro Szazadveg, Orban foi “o único líder europeu que manteve uma posição constante” desde o início da crise e suas políticas foram de uma temível eficácia, já que conseguiu parar o fluxo de imigrantes, depois que mais de 400.000 circularam pela Hungria entre janeiro e outubro.
Sua política fez escola: Eslovênia, Macedônia e até mesmo a Áustria ergueram em suas fronteiras barreiras mais ou menos impermeáveis. E Alemanha e França impuseram controles fronteiriços provisórios, mas que se prolongam de mês em mês.
A Hungria se juntou a Eslováquia, República Tcheca e Polônia para uma rebelião contra as cotas para os refugiados que a União Europeia quer impor em cada um dos seus países membros.
E enquanto muitos líderes de países vizinhos “não acreditem necessariamente que Orban esteja certo, eles veem que sua estratégia tem benefícios políticos”, diz o analista húngaro Csaba Toth.
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E o sucesso de Orban pode ser passageiro.
“Se as soluções da UE para enfrentar a crise de refugiados (distribuição geográfica, colaboração com a Turquia, seleção de solicitantes de asilo nas fronteiras), Orban acabará perdendo influência”, aponta Istvan Hegedus, diretor de um centro de investigações pró-europeu em Budapeste.
Segundo Hegedus, Orban continua apesar de tudo “marginalizado na cena internacional”, dado que “nenhum responsável governamental europeu nem de partidos políticos vem visitar Budapeste”. A última a fazê-lo foi, ironicamente, Angela Merkel, em fevereiro de 2014.
Mas na Hungria, o discurso anti-imigração parece ter criado alguma coesão em torno do partido Fidesz, que até recentemente tinha o eleitorado disputado pela formação ultranacionalista Jobbik.
Uma situação que permite que Orban comece a pensar sobre a obtenção em 2018 de um terceiro mandato consecutivo. Intenção que já revelou no último domingo, antes do congresso do partido.
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