, razão e bom senso equilibram-se se tiverem como base o respeito pela liberdade individual. Ou livre arbítrio. Do contrário é intolerância, pauta mais que pertinente no momento e que é a aposta do diretor catarinense Chico Faganello para seu terceiro longa-metragem, Oração do Amor Selvagem. Livremente inspirado em fatos reais, o filme apoia-se em regionalismos e traz à tona a opressão, o racismo, a ignorância e a loucura em nome do divino. A estreia é nesta quinta (10) em Florianópolis (no Cinespaço do Beiramar Shopping) e nas principais cidades do Brasil.

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Depois de Outra Memória (2004) e Muamba (2011), Faganello acertou a mão num drama com roteiro bem amarrado escrito por ele e Vander Colombo. A trama é uma recriação de fatos ocorridos entre 1979 e 1984 numa pequena cidade do interior de Santa Catarina. O lugar é dividido pelo preconceito e vive a ascensão de novas religiões e seitas, ainda um rescaldo do misticismo do Contestado e o aparecimento das doutrinas neopentecostais. É para lá que vai Thiago (Chico Diaz) e a filha (Camilla Araújo), onde são acolhidos em duas situações distintas, ambas marcadas pela violência psicológica e fanatismo.

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_ A história original é triste e violenta, fala sobre loucura. O filme traz essa profundidade, mas de um jeito mais claro e simples. E tem o ponto de vista infantil, de como uma criança lida com essa violência _ diz o diretor.

De fato, Faganello conseguiu impôr uma atmosfera densa e profunda e, ainda que numa dinâmica peculiar e compassada, cheia de silêncios e sons sutis da natureza, tem um ritmo progressivo. A primeira parte é um tanto quanto vagarosa, mas há um ponto de virada em que a tensão aumenta na medida que a inadequação do protagonista se evidencia. O desfecho, que parece previsível sob um ponto de vista, surpreende afinal.

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PERSONAGENS DÃO FORÇA À TRAMA

Chico Diaz, ator premiado no Brasil e já acostumado a interpretar personagens soturnos, impingiu ao protagonista uma personalidade xucra, intensa e de pouquíssimas palavras. Xucro, aliás, era a primeira opção para o título do longa.

_ Gosto da ideia dos ditos xucros e selvagens. Um xucro silencioso, que pouco sabe do universo, é menosprezado em relação às pessoas cultas e civilizadas quando na verdade são eles, os cultos, os selvagens, os que destroem mais _ diz o ator.

O ator catarinense Ivo Müller encarnou um verdadeiro diabo loiro disfarçado de líder religioso afetado. Merece aplauso, assim como a estreante Camilla Araújo. A atriz de 11 anos deu força e leveza à personagem que assiste de camarote à violência física e psicológica e, ainda assim, consegue manter-se equilibrada e em harmonia com a natureza que a rodeia.

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O filme participou do programa Carte Blanche, do Festival de Cinema de Locarno, na Suíça, em 2014. No Brasil, estreou na 39ª Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo. É uma coprodução da Filmes que Voam, Orbital Filmes e Cineramabc Filmes, todas de Santa Catarina, e tem a chancela da Pandora Filmes, pioneira na distribuição de filmes de arte no país.

As gravações foram feitas em Antônio Carlos e a trilha sonora original é assinada por Zeca Baleiro, que compôs dois hinos e gravou com o coral da igreja do município catarinense.

ASSISTA – Depoimento de Zeca Baleiro sobre a trilha sonora do filme