A oposição venezuelana jogou uma nova carta para pressionar por eleições presidenciais com garantias: uma aliança de partidos e sociedade civil que pode ser tardia ante a iminência da votação, em 20 de maio.

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Inclinada pelo boicote a essas eleições nas quais o presidente Nicolás Maduro tentará se reeleger, a opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) apresentou nesta quinta-feira (8) a “Frente Ampla Venezuela Livre”.

Além dos cerca de 20 partidos da coalizão, integram a plataforma de representantes das principais universidades, a patronal Fedecámaras, sindicatos, ONGs e um pequeno grupo de dissidentes do governo.

“O objetivo é mudar o sistema eleitoral para alcançar garantias”, disse José Virtuoso, reitor da Universidade Católica Andrés Bello.

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Uma das primeiras decisões foi convocar para 17 de março um “protesto nacional e mundial contra a fraude”, em referências às eleições antecipadas.

Esta será a primeira mobilização organizada pelos adversários de Maduro desde a onda de protestos que exigia a sua saída entre abril e julho de 2017 e deixou 125 mortos.

Maduro considerou que o novo movimento é apenas uma “mudança de nome” da MUD e uma cópia de sua proposta da “Frente Ampla da Pátria”. “São os mesmos de sempre”.

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Para a próxima segunda-feira também foi convocada uma marcha em Caracas para pedir à ONU que não se “preste a convalidar a fraude” que, segundo a coalizão, é preparada por Maduro e pelo poder eleitoral.

Uma pesquisa da empresa Datanálisis indica que 75% dos venezuelanos estão dispostos a votar.

Embora seja necessário para alcançar uma mudança de governo, analistas como Luis Salamanca consideram que a nova Frente Ampla chega tarde demais.

“É como construir uma equipe estando às vésperas da final do campeonato”, declarou Salamanca à AFP, indicando que a MUD “focou nas negociações com o governo e descuidou de sua agenda interna”.

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O cientista político acrescentou que a Frente Ampla seria uma estratégia de rejuvenescer a MUD, duramente atingida ao não alcançar seus objetivos nos protestos de 2017, pelo fracasso da negociação e pelas críticas de seguidores por não enfrentar Maduro nas urnas.

De fato, a coalizão nasceu em 2008 como resultado de uma crise na Coordenadora Democrática, que reunia os partidos opositores e grupos civis e ficou à margem das parlamentares de 2005, deixando o caminho livre ao chavismo para ampliar seu poder.

“O governo é ineficiente, abusivo, manipulador e trapaceiro. Mas tem a sorte de enfrentar uma oposição adolescente que não suporta nem a ela, se autoflagela, ataca seus aliados e desperdiça seus recursos lutando contra si mesma”, escreveu na quarta-feira o analista Luis Vicente León, presidente da Datanálisis.

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Mas reeditar os protestos de 2017 “não será fácil”, segundo Salamanca, pois é uma estratégia conhecida e limitada pela “repressão oficial”.

“Falta a outra rua, a dos setores populares que mais resistem à crise e que a oposição não conseguiu ativar”, disse.

* AFP