A oposição venezuelana anunciará em breve sua estratégia, após o duro golpe sofrido nas eleições regionais de domingo (15), nas quais o governo venceu em 17 dos 23 estados do país, embora os resultados ainda não sejam conhecidos.
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Encurralada pelo governo, dividido e criticado dentro de suas próprias fileiras, a Mesa da Unidade Democrática (MUD) encara o desafio de se recompor após sua derrota tanto nas urnas quanto nas marchas que, entre abril e julho, deixaram 125 mortos sem alcançar o objetivo de tirar o presidente Nicolás Maduro do poder.
A oposição pediu uma “auditoria total” do processo, mas Maduro, certo de uma vitória que qualificou de taxativa, havia antecipado seu apoio a uma revisão completa.
Para a situação, que tinha 20 governos, foi uma vitória conquistar 17, pois as pesquisas de opinião davam à MUD chance de vencer em até 18 estados. Ainda há um estado a se definir, segundo o poder eleitoral, acusado pela oposição de servir ao governo.
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Em nível nacional, o chavismo obteve 54% dos votos contra 45% de seus adversários. “O chavismo está vivo, está na rua e está triunfante”, comemorou Maduro, já pensando nas presidenciais de 2018.
Analistas se questionam o que aconteceu com as consultas, mas sobretudo porque a oposição, que havia esmagado o governo nas parlamentares de 2015, perdeu tanto apelo eleitoral e Maduro venceu o pleito mesmo com 80% de rejeição pela grave crise que asfixia o país.
“As divisões na MUD sobre qual é a melhor estratégia para enfrentar o governo (rua, eleições ou diálogo) vão se aprofundar, especialmente se a tentam com eleições municiais ou presidenciais antes do esperado”, disse à AFP Diego Moya-Campos, do IHS Markit, de Londres.
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– Novas manifestações? –
Mergulhada no caos com manifestações há apenas dois meses, Caracas amanheceu em calma nesta segunda-feira, inclusive no leste, reduto da oposição. Nenhum panelaço foi ouvido.
“Agora pode vir uma onda de depressão generalizada porque o povo pode chegar a pensar que a via eleitoral tampouco funciona”, declarou à AFP o cientista político Luis Salamanca, que prevê “mais confronto” político.
O chefe de campanha da MUD, Gerardo Blyde, pediu para organizar “atividades de rua em apoio” à auditoria. “Temos que continuar lutando”, afirmou nesta segunda-feira Carlos Ocariz, vencido na disputa pelo governo do estado estratégico de Miranda (norte) e que atualmente ostenta o líder opositor Henrique Capriles.
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Mas uma parte dos seguidores da MUD, frustrados por não terem conseguido tirar Maduro com os protestos, passaram a conta à coalizão por ter aceito participar destas eleições e tido aproximações de diálogo com o governo.
Bianca de 33 anos, foi uma das que protestaram e bloquearam ruas, mas diz estar totalmente desiludida agora.
“Ir às ruas não serviu de nada. O que vamos fazer indo votar e eleições presidenciais se já sabemos o que vai acontecer?”, disse à AFP.
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Para Moya-Ocampos, “a opção do diálogo e a saída eleitoral se veem cada vez mais distantes e de novo o protesto nas ruas e a comunidade internacional vão marcar a pauta”.
Atacho Stalin, funcionário público de 47 anos, acredita “que houve fraude”.
“Isto vai render, acho que os protestos vão voltar”, comentou.
– Mais isolamento internacional? –
Maduro tem sido acusado por seus adversários e por alguns países de ter instaurado uma “ditadura” na Venezuela, agora com o apoio de uma Assembleia Nacional Constituinte, totalmente oficialista, eleita em 30 de julho passado.
A França expressou preocupação, ao considerar a “falta de transparência que afeta a confiança nos resultados”, segundo a Chancelaria francesa.
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Já a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, ressaltou que os resultados são “surpreendentes”, razão pela qual vê como necessário “averiguar o que aconteceu de verdade”.
Mais explícito, o Departamento de Estado americano manifestou-se em um comunicado, apontando que as eleições não foram nem livres, nem justas, e denunciando sua “manipulação”, entre outras irregularidades.
“Condenamos a ausência de eleições livres e justas ontem na Venezuela. A voz do povo venezuelano não foi escutada”, destacou o comunicado.
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Buscando legitimidade nacional e internacional, Nicolás Maduro transformou essas eleições em uma validação de sua Constituinte, desconhecida pela MUD e por países da América e da Europa por considerá-la “fraudulenta” e “ilegal”.
Com a instalação desse órgão em agosto, previsto para permanecer em vigor até 2019, os Estados Unidos impuseram sanções econômicas à Venezuela, após sancionarem vários funcionários do governo, incluindo Maduro.
“Sem sombra de dúvida, isso vai levar a mais sanções no curto prazo por parte da União Europeia e, sem dúvida, a um maior isolamento. Claramente, vai depender mais de China e Rússia”, disse Moya-Ocampos.
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Nesta segunda-feira, a China destacou que o processo eleitoral foi “muito tranquilo” e que o gigante asiático não interfere nos assuntos internos da Venezuela.
“Acreditamos que o governo desse país seja capaz de administrar adequadamente seus assuntos internos no âmbito da lei e manter a estabilidade e a prosperidade”, declarou à imprensa o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Lu Kang.
Recentemente, Maduro se reuniu em Moscou com o presidente russo, Vladimir Putin, para tentar renegociar a dívida venezuelana.
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Para diferentes analistas ouvidos pela AFP, a solução para a crise está não apenas mais distante, como o país tende a entrar em “um beco sem saída”, resumiu Salamanca.
“Os riscos de conflito e de sanções transformam a Venezuela em um país desfavorável para os investidores”, comentou León, economista e presidente da Datanálisis.
“A desconfiança em relação ao resgate de equilíbrios econômicos e ao isolamento nos leva a esperar um cenário de maior primitivização”, acrescentou.
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Com as sanções, o panorama econômico se revela ainda mais desolador para um país à beira da hiperinflação e com uma severa escassez de alimentos e medicamentos.
* AFP