A principal coalizão de oposição síria é esperada neste sábado em Genebra para participar das discussões organizadas pela ONU, na esperança de pôr fim a cinco anos de guerra no país, onde a situação humanitária é catastrófica.
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“Nós vamos chegar hoje à noite em Genebra”, disse por telefone à AFP o porta-voz do Alto Comitê de Negociações (ACN), o principal grupo de oposição, Monzer Majus.
Depois de quatro dias de incerteza, o ACN decidiu na sexta-feira se juntar às negociações abertas pelo enviado da ONU, que já realizou uma reunião com uma delegação do regime de Damasco.
A delegação de negociadores da oposição é composta por quinze pessoas, mas haverá mais vinte representantes do ACN em Genebra.
O coordenador do ACN, Riad Hijab, irá juntar-se à delegação mais tarde e as reuniões com o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, começarão “talvez amanhã”, no domingo, ressaltou.
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Criado em dezembro, em Riad, o ACN, que reúne grupos de opositores políticos e representantes de grupos armados, se recusava até então a participar dessas negociações indiretas devido à situação humanitária catastrófica na Síria, mas mudou de ideia depois de receber garantias da ONU sobre alguns aspectos.
No terreno, a situação está piorando a cada dia, principalmente em Madaya, cidade perto de Damasco sitiada pelas forças do regime, onde 16 pessoas morreram de fome desde meados de janeiro, de acordo com a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).
O chefe da delegação do ACN, Assaad al-Zoabi, informou, no entanto, que a coalizão havia recebido garantias, incluindo dos Estados Unidos e da Arábia Saudita.
Elas estão relacionadas com a implementação das medidas humanitárias previstas na resolução 2254 do Conselho de Segurança da ONU para a suspensão dos bombardeios em áreas civis e um acesso humanitário às localidades sitiadas.
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Os Estados Unidos, a Arábia Saudita e a França saudaram a decisão do ACN de participar das discussões, fazendo referência a esta resolução.
As negociações devem “alcançar uma transição política sem Assad e acabar com o sofrimento dos sírios”, insistiu em um comunicado o chefe da diplomacia britânica, Philip Hammond.
A questão do destino do presidente Bashar al-Assad, visto pelo Ocidente como o carrasco de seu próprio povo, é uma das mais difíceis, uma vez que os russos e iranianos rejeitam a sua exclusão.
“Nenhum aspecto deve ser deixado de fora”, ressaltou neste sábado seu colega francês, Laurent Fabius, para quem as discussões devem se concentrar no “direito humanitário” e na “transição política”.
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Esperanças escassas
A ONU decidiu manter a abertura das discussões na sexta-feira, apesar da ausência do ACN e de Mistura se reuniu com a delegação de Damasco liderada pelo embaixador sírio na ONU, Bashar Jaafari, e que conta com cerca de quinze pessoas.
O encontro, descrito pelo enviado da ONU como uma “reunião preparatória”, marcou o pontapé inicial de um diálogo inter-sírio simbólico, organizado após uma grande pressão internacional e que deve durar seis meses.
As grandes potências esperam que os sírios consigam pôr fim a uma guerra que deixou mais de 260.000 mortos e milhões de refugiados e deslocados desde março de 2011.
De acordo com o roteiro, fixado em uma resolução da ONU em dezembro, os sírios precisam concordar sobre um corpo transitório para organizar eleições em meados de 2017.
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As esperanças de sucesso são escassas, dada a extrema complexidade da questão e a participação direta ou indireta de uma dúzia de países no conflito.
As discussões adiante, apesar da emergência humanitária, serão difíceis.
* AFP