A oposição venezuelana tomou novamente as ruas nesta quarta-feira para exigir a saída de Nicolás Maduro do poder e espera que os militarem acatem a ordem do chefe das Forças Armadas de não cometer “atrocidades” nas manifestações.

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Milhares de opositores tentavam chegar à sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), no centro de Caracas, para protestar contra a Assembleia Nacional Constituinte convocada por Maduro, que consideram uma “fraude” para se manter no poder.

Mas ao longo de dois meses de protestos, as forças de segurança impediram os manifestantes de alcançar essa área, dispersando-os com bombas de gás lacrimogêneo. Os opositores os acusam de uma repressão “selvagem”, as disparar bombas de gás, balas de borracha e bolas de gude.

Em um reconhecimento dos excessos cometidos pelos militares nos protestos, o chefe das Forças Armadas e ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, advertiu na terça-feira: “não quero ver mais um guarda cometendo uma atrocidade nas ruas”.

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“Pedimos a Padrino López que cumpra com a sua palavra e deixa a marcha acontecer em paz”, manifestou Julio Borges, presidente do Parlamento.

Os protestos deixaram 65 mortos, mil feridos e centenas de detidos, segundo a Procuradoria, cujas investigações – questionadas pelo governo – assinalam que pelo menos uma destas mortes, a do jovem Juan Pernalete, foi provocada pelo impacto de uma bomba de gás.

“Se tornaram delinquentes, não apenas assassinam, mas agora roubam os sapatos, as bolsas, as pessoas. Esperamos que os funcionários da Polícia e da Guarda permitam a mobilização, ou as palavras do ministro serão uma mentira”, declarou o dirigente estudantil universitário Alfredo García, durante a marcha.

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– “As palavras não bastam” –

A declaração do ministro foi feita em meio ao rechaço gerado por vídeos que circularam na segunda-feira nas redes sociais. Neles são vistos policiais e militares agredindo e roubando os pertences de várias pessoas durante um protesto opositor.

“Aquele que se afasta da linha do Estado, da grandeza dos direitos humanos, do respeito aos direitos humanos e que se comporta não como um profissional, então tem que assumir a sua responsabilidade”, advertiu Padrino López, sem fazer uma alusão direta aos assinalamentos contra as forças de segurança.

O general, que declarou “lealdade incondicional” a Maduro, assegurou recentemente que a atuação dos corpos de segurança nas mobilizações opositoras se realiza com “absoluto respeito aos direitos humanos” e negou que houvesse repressão, mas “um controle da ordem pública”.

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“As palavras sozinhas não bastam, Padrino López. Prenda os guardas que abusam”, desafiou a deputada Delsa Solórzano, que atacou o ministro do Interior, o general Néstor Reverol, que comanda a Polícia Nacional Bolivariana, chamando-o de “assassino”.

Reverol, sobre quem pesam sanções dos Estados Unidos por suposto tráfico de drogas, foi citado na terça-feira pelo Parlamento para prestar contas sobre a “repressão”. Por não ter comparecido, nesta quinta-feira será votada uma moção de censura para sua “remoção”, embora as decisões legislativas sejam consideradas nulas pelo Tribunal Supremo de Justiça.

As forças de segurança também foram criticadas pela procuradora-geral, Luisa Ortega, por uma suposta “rapidez” ao julgar a atuação das tropas.

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– “Ninguém poderá impedi-lo” –

Para a oposição, as declarações do ministro demonstram que os protestos estão surtindo efeito. “Temos que continuar nas ruas até que Maduro negocie a sua saída […] ou os militares retirem o seu apoio”, afirmou o opositor Freddy Guevara, vice-presidente do Parlamento.

Mas o governo assegura que está firme. “No domingo 30 de julho, chova, troveje ou relampeje, o povo irá votar e eleger a sua Constituinte”, manifestou Maduro nesta quarta-feira, ao intervir em uma reunião de estudantes para impulsionar a sua iniciativa.

O governante acusou os seus adversários de exercer uma “violência extremista” para evitar a Constituinte, com o apoio dos Estados Unidos.

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* AFP