A oposição da Nicarágua questionou o anúncio da OEA de trabalhar em uma reforma ao sistema eleitoral que daria um “respiro” ao governo de Daniel Ortega, que neste sábado reprimiu violentamente os manifestantes. Já há mais de cem mortos nos confrontos.

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“A esta altura a proposta da OEA resulta insuficiente, somente lhe daria um respiro” ao governo enquanto continua reprimindo e criando “o caos” no país, advertiu o ex-deputado opositor, advogado e acadêmico universitário Eliseo Núñez à AFP.

“A exigência dos cidadãos que estão nas ruas é sair imediatamente do desgoverno de Ortega”, disse por sua vez a dirigente opositora da sociedade civil, Azhalea Solís.

A secretária-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), liderada por Luis Almagro, informou na sexta-feira que chegou a um acordo com o governo da Nicarágua para trabalhar nos próximos seis meses em uma reforma ao questionado sistema eleitoral, como saída para crise vivida no país centro-americano.

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Uma missão técnica da OEA deve chegar neste fim de semana à Nicarágua para definir um plano de trabalho com o governo, enquanto no departamento de Masaya (sul) era cenário neste sábado de novos incêndios, saques e violentos confrontos que deixaram pelo menos um morto.

“Há um morto, feridos, detidos. Estamos em fogo cruzado”, disse à AFP o presidente da Associação Nicaraguense de Proteção a Direitos Humanos (ANPDH), Álvaro Leiva.

Na cidade foram ouvidos disparos de morteiros artesanais e tiros. Foram lançadas bombas de gás lacrimogêneo, constatou uma equipe da AFP em Masaya, enquanto a população advertia sobre “um franco-atirador posicionado” no parque.

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Masaya é um antigo bastião sandinista que se sublevou contra o governo.

À lista de pessoas mortas, se somou neste sábado um cidadão americano de 48 anos chamado Sixto Henry Viera, confirmou a embaixadora americana no país, Laura Dogu, em um tuíte.

“A morte de um cidadão dos EUA é de grande preocupação para a embaixada”, disse Dogu.

O americano por tiros supostamente vindos de grupos simpáticos ao governo.

Nas últimas duas semanas, a violência na Nicarágua aumentou apesar dos pedidos da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e da Anistia Internacional (AI) para que o governo cessasse imediatamente a repressão contra os manifestantes.

Os pedidos dos Estados Unidos, principal parceiro comercial da Nicarágua, das Nações Unidas (ONU), e da União Europeia (UE) também não surtiram efeito.

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A Anistia Internacional acusou na segunda-feira o governo nicaraguense de usar forças paramilitares, conhecida como “turbas”, para reprimir os protestos.

Dois dias depois, na quarta-feira, a polícia e as forças de choque do governo atacaram, usando armas de fogo, uma enorme manifestação opositora, liderada por mães que perderam seus filhos nos protestos. Neste dia a violência deixou pelo menos 16 mortos.

* AFP