A semana começa com mais dúvidas do que certezas em Brasília. Os blocos de oposição estão divididos na análise sobre o melhor momento para instalar a comissão de impeachment da presidente Dilma Rousseff, enquanto a base aposta em mobilizações de rua e em discursos para defender o governo e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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A ala de oposição do PMDB quer pressionar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pela instalação imediata da comissão, de acordo com a eleição realizada em dezembro, com voto secreto e chapa avulsa, em afronta à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Esse método de composição daria maioria aos oposicionistas na análise do impeachment, mas o procedimento foi anulado dias depois pelo STF, que proibiu o voto secreto e a chapa avulsa, atribuindo a formação da comissão aos líderes de bancada, o que dá maioria ao governo.
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O DEM quer aguardar a publicação do acórdão, prevista para esta semana. Uma reunião nesta segunda-feira, com outros partidos, como PSDB, SD e PPS, deverá encaminhar uma posição. Parlamentares avaliam que o melhor momento de iniciar os trabalhos seria após as manifestações de domingo, contrárias a Dilma.
– Temos a informação de que o STF vai publicar o acórdão. A partir disso, vamos reapresentar os embargos. A ideia é instalar a comissão de dezembro – diz o deputado Pauderney Avelino (AM), líder do DEM.
Com arestas por aparar, a oposição sinaliza que a instalação deve ficar para o final de março. A ideia do DEM não deixa de ser uma revisão de postura do bloco contrário ao governo que, na sexta-feira, havia anunciado que pressionaria pela análise do impedimento nesta semana. Depois de refletirem, consideraram importante não começar o trabalho com maioria governista.
A oposição também estuda como fazer um aditamento ao requerimento de impeachment para incluir informações que estariam na delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT-MS). Ele implicou Dilma em supostas tentativas de interferir na Lava-Jato. Não está descartada a apresentação de um novo pedido de impeachment com as revelações de Delcídio.
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Na parcela da oposição do PMDB, a defesa da postura de enfrentamento ao STF será feita em plenário, na sessão de terça-feira. O entendimento é de que houve interferência indevida no Legislativo. Parlamentares alegam que a decisão da Corte sobre o rito foi baseada na leitura equivocada do artigo 188 do regimento da Câmara.
– Minha proposta é de que Cunha instale a comissão eleita em dezembro. Se não há acórdão publicado, não há nada a que recorrer – diz Carlos Marun (PMDB-MS), aliado fiel de Cunha.
A semana ainda será marcada por decisões partidárias. No PSDB, a ordem é focar críticas e ações para derrubar Dilma. Existe temor de que avançar sobre Lula neste momento poderá ajudar a vitimizá-lo.
O PMDB também terá articulações intensas até o próximo sábado, quando será realizada a convenção nacional da sigla. O vice-presidente Michel Temer será reeleito para presidir a agremiação, mas surgirá o debate sobre o rompimento com o governo Dilma. Embora tenha aprovado a tese da ruptura com o PT, os diretórios do Sul não exercem controle sobre as decisões nacionais. Outras regionais reforçarão o clamor pelo desembarque. Contudo, a discussão ficou de fora da pauta oficial da convenção. Aliados defendem que Temer fique fora de Brasília, dedicado apenas ao PMDB, para evitar desgastes e manter distância de Dilma.
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Pelo lado governista, o PT prepara uma “operação de guerra” em duas vias – uma parlamentar e outra nas ruas. Nos locais em que estiverem Dilma e Lula, haverá militantes e movimentos sociais para defendê-los – a presidente passou o fim de semana em Porto Alegre, onde houve manifestações pró e contra, e nesta segunda-feira entrega moradias do Minha Casa Minha Vida em Caxias do Sul. Deputados e senadores irão às tribunas reforçar o coro. Crescem o discurso de que impeachment é golpe e as críticas ao juiz federal Sergio Moro.
– Temos adversários no âmbito político e no Judiciário, que é esse juiz. Ele cedeu à tentação – afirma a deputada Maria do Rosário (PT-RS).