Estamos vivendo um momento que pode vir a ser um importante capítulo de nossa história, e um detalhe se sobressai. um acessório simples mas cercado de mistério e simbologias: uma máscara.

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Em 1983, o escritor inglês Alan Moore criou o roteiro da revista em quadrinhos “V de Vingança” para editora britânica Warrior, ilustrada por David Lloyd. No enredo da HQ, a Inglaterra está sob um regime fascista totalitário, e os direitos civis foram revogados. Arte e cultura são proibidas. Então surge um misterioso homem chamado apenas de “V”, que usa método radicais para restituir à população inglesa a liberdade de escolha, e ele usa uma máscara que representa um personagem histórico chamado Guy Fawkes, que participou de uma conspiração contra o Rei Jaime I e tentou explodir o parlamento inglês em 1605. Lógico que a revista foi adaptada para o cinema, e, graças ao filme, uma parcela maior da população foi apresentada à máscara.

A intenção do personagem girava em torno de trazer uma perspectiva maior de futuro para o povo e esclarecimento que trouxesse à tona a força das massas para resistir à opressão e abusos do governo. O movimento auto intitulado “Anonymous” deve ter adotado essa máscara como símbolo por ter uma proposta parecida, já que uma das mensagens na história de V seria que os espíritos das pessoas unidas para defender seus direitos e liberdade, torna-se um único espírito.

Chega a ser esperado que os protestos no Brasil também tivessem essa empatia pelo atual símbolo de força popular em prol do bem geral, embora a maioria nem saiba de onde a máscara veio. Porém, como tudo que o homem cria, mesmo ideias e propostas acabam por serem mal utilizadas, quando um ou vários indivíduos visam intencionalmente malefícios por pura satisfação pessoal, ou mesmo se deixando influenciar por outros. São casos assim que prejudicam a imagem de uma população sofrida, que resolveu finalmente sair da passividade de seu sofá, mas que se quis fazer ouvir por meios justos, éticos e humanos. E principalmente, havia um FOCO em comum, mas diluiu-se entre egos, conveniências e oportunistas de momento.

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Acredito que o Sr. Moore apenas quis desenvolver um gibi que além de entreter, contribuísse com questionamentos de valores e prioridades para cada leitor de sua obra, mas que agora escapou de seu controle, como sua personagem da trama, que não aceitava submissão alguma. Curioso ver como um acessório comum, uma simples máscara, que se propõe a ESCONDER uma identidade, se torne o vetor para REVELAR outra, talvez mais nobre, talvez menos. Sob essa constatação, vale lembrar aqui que precisamos ter cautela com um símbolo desses pois pode revelar muito mais sobre nós do que estamos dispostos a descobrir.

Zambi é chargista do Jornal Hora de Santa Catarina e apaixonado por quadrinhos.