Sobre os acontecimentos envolvendo a professora do Colégio dos Santos Anjos, de Joinville, tenho muito a dizer. Não sobre a professora, nem sobre o acontecimento em si. Mas sobre tudo aquilo que está por trás disso e que quase ninguém vê. Muitas pessoas conhecem a política que veem na TV, e algumas já se chocam com a falta de pudor de uns e outros candidatos quando ocorrem acusações e jogo sujo na campanha. Só que isso ali é pouco. Quem conhece a política pelo lado de dentro sabe que essa professora foi apenas mais uma vítima de disputas ideológicas que não aparecem nos jornais.
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Professora de Joinville fantasiada com blackface gera discussão nas redes sociais
O Movimento Negro Maria Laura eu não conheço bem, mas no passado já estive bastante envolvido em causas sociais e as abandonei por perceber que o discurso e a prática eram negativos. Na melhor das hipóteses, julgo que sejam pessoas bem intencionadas praticando o mal, sem a menor ideia de que promovem ainda mais desigualdade e desrespeito. O que fizeram com a professora não teve nada a ver com uma luta legítima em defesa dos negros, nem contra o racismo ou em prol da igualdade. Conheço muita gente que luta por estas coisas de verdade. A professora foi meramente um alvo de disputa política, um pequeno efeito colateral da queda de braço entre uns grupos e outros. O problema é que não posso diante disso me calar enquanto vejo uma pessoa ter sua vida exposta, virada de cabeça para baixo, sofrendo perseguição e ameaças por algo que nem fez. É um disparate o que este movimento provocou contra a professora e contra o colégio. A atitude foi irresponsável e abominável!
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“Abandonei os movimentos sociais por um único motivo: percebi que estavam lutando para promover guerra de classes e não o respeito e a união”
Acusar alguém de racismo é algo grave. Se for para fazer, que se faça com o devido cuidado para não imputar uma acusação falsa. No Guarujá, em São Paulo, uma mulher foi assassinada por populares em um linchamento no ano passado. E tudo isso começou após terem espalhado boatos contra ela na internet. Manchar a imagem de alguém assim é algo muito sério. E qualquer pessoa sensata, com algum contato com o mundo real e que não esteja cega de ideologia, consegue perceber que a atitude da professora ao se pintar na festa é uma brincadeira, algo feito sem qualquer tipo de preconceito.
Posso entender que alguns se sintam ofendidos. Posso aceitar que o Movimento Negro Maria Laura ou o Coletivo Negro das Mulheres tenham se incomodado. As pessoas têm toda a liberdade para se ofenderem ou não. O que eu não posso, de forma alguma, é apoiar ou dar respaldo ao ato de promoverem uma caça às bruxas. Principalmente porque isso nada tem a ver com defender a igualdade. Essa ação que realizaram foi muito além da sensatez. Ultrapassaram qualquer limite de bom senso.
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“A gente sabe que existe racismo de verdade por aí. A questão
é que depor falsamente contra alguém“
Quando abandonei os movimentos sociais, há pouco mais de cinco anos, os larguei por um único motivo: percebi que estavam lutando para promover guerra de classes e não o respeito e a união. Essa postura negativa piorou muito desde então. Naquela época já era ruim, mas agora é insustentável. A gente sabe que existe racismo de verdade por aí, e há pessoas ruins causando mal a outras pessoas o tempo inteiro. A questão é que depor falsamente contra alguém, como fizeram com esta professora, serve apenas a um propósito: a política.
A sociedade precisa entender como operam estes movimentos. É preciso, antes tarde do que nunca, acordar para esta realidade das ruas que não aparece na televisão. Boa parte destes grupos – talvez todos eles – possui ligação com algum partido.
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