Até a década de 1970, uma simples gravidez era uma incógnita. Desde a natural curiosidade familiar sobre o sexo da criança até a mais urgente ciência sobre a saúde do bebê eram inviáveis. Foi apenas com a popularização do ultrassom, nas décadas seguintes, que o acompanhamento das gestações deu um salto. É um dos momentos que a tecnologia entrou em cena e uniu as medicinas preditiva e preventiva: conseguimos diagnosticar com mais precisão, o mais rápido possível, e tomar a melhor decisão.

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Mas toda tecnologia tem um ciclo: surge a necessidade, seguida por pesquisas, testes, análises de viabilidade e escalabilidade, até a adesão em massa. Ou o abandono. A crise do novo coronavírus quebrou essa cadeia. Ou melhor, nos ajudou a reinventá-la. Processos que levavam anos passaram a acontecer em semanas. A “escalabilidade”, esse palavrão tão afeito ao capitalismo (e por vezes tão malvisto pela medicina), precisou ser ressignificado. Afinal, em meses, um simples vírus afetou bilhões de pessoas e forjou a maior corrida de 100 metros da História do homem no planeta Terra: sobreviver. Biologicamente e socioeconomicamente.

No front da saúde, drones, robôs, inteligência artificial, scanners e outros gadgets de cinema nos ajudam a diagnosticar, a reagir, e a calcular modelos de cura. Na economia, precisamos reinventar e repensar o modelo de trabalho: afinal, pagamos pela presença ou pela produtividade? Nós confiamos em nossos times ou é o “olho do dono” (que, como diz o ditado, “engorda o negócio”), que mantém tudo no prumo? As ferramentas de home office, antes consideradas supérfluas, de empresas “cool” e restritas ao nicho da tecnologia, precisaram absorver milhões de colaboradores que, até ontem, batiam pontos. No papel.  

Num outro front não muito distante, o da informação, a tecnologia vem sendo a vilã: evoluiu rapidamente para servir de plataforma para as fake news, para a disseminação do medo e de teorias tresloucadas. É aqui que uma batalha é travada diariamente. E aqui a ciência (e todos os avanços que levamos séculos para aperfeiçoar) é castigada.

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No último campo, o das relações pessoais, a tecnologia nos levou para as experiências virtuais, em detrimento do “real”. Não que o virtual também não seja real – e ele é. Mas o “ser virtual” significa deixar de “ser físico”. Nos beijos via emoji, nas vozes metalizadas dos WhatsApps, nos olhares via Zoom, nos toques de dedos via telas.  

Se o medo gera uma resposta natural no ser humano (como teorizava Wittgenstein), dessa vez, ao contrário das guerras, ele teve o poder de humanizar a tecnologia – que andava pouco próxima ao afeto. Como disse a colega Marina Martini, em matéria publicada aqui, em maio, é “por meio da tecnologia que a humanidade supera obstáculos e, tantas vezes quantas forem necessárias, estabelece um novo normal”.