“Para que o processo fosse uma coisa viável entre nós, preciso era que não conhecêssemos as vozes dos artistas. [?] A mudança das inflexões das vozes, o desencontro de certos momentos nos movimentos labiais perturbam todo filme e ninguém o poderá apreciar nos seus verdadeiros méritos.”
Continua depois da publicidade
Esta crítica à dublagem foi publicada na revista Cinearte em 1931, logo que a técnica começou a se popularizar no Brasil, e demonstra um incômodo que permanece para aqueles que prezam a obra cinematográfica em sua totalidade. Afinal, atuação não é feita apenas de gestos. A força da voz ou da narração é igualmente responsável pelo trabalho final e há uma série de particularidades na dublagem que sujeitam o espectador aos mais diversos problemas. O mais agravante, claro, é a falta do áudio original: pense na voz de Philip Seymour Hoffman em Capote, cuidadosamente mais aguda do que a sua natural – para conferir uma fragilidade maior ao seu personagem – ser perdida pelo trabalho do dublador, que, por mais que tente fazer um bom trabalho, não é o Philip Seymour Hoffman.
O cinema é um espaço democrático. Em sua origem, era a arte mais popular de todas, já que não era necessário nem ser alfabetizado para compreender um filme mudo. É ponto positivo que, atualmente, pessoas antes impossibilitadas de fazer esse programa estejam levando mais público para dentro das salas escuras dos multiplex. O problema é que, em regiões como Santa Catarina, as opções são tão reduzidas que, o que não é blockbuster (o principal foco do dublado), é considerado alternativo (e provavelmente não entrará em cartaz). E, mesmo se quisermos ver um blockbuster com o som original, talvez não seja mais possível encontrar.
A necessidade urgente é de uma readequação na programação. É o circuito não ser dominado pela dublagem excessiva, que não é mais uma opção, mas uma imposição; é o cinema nacional não se restringir à Globo Filmes e, consequentemente, ele servir como atrativo para quem deseja um filme no próprio idioma. O que queremos é que todos sejam atendidos – inclusive nós, amantes do cinema, defensores da legenda.
Continua depois da publicidade