O diario.com.br adianta o editorial que os jornais do Grupo RBS publicarão no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados.

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Serviços de má qualidade

A mostra até pode ser pequena em relação à população brasileira, mas é significativa o suficiente para atestar cientificamente o que os cidadãos sentem no dia a dia. Pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao Ibope, divulgada na última quarta-feira, revela a insatisfação dos cidadãos com a qualidade dos serviços públicos no país. O estudo denominado Retratos da Sociedade Brasileira: Qualidade dos Serviços Públicos e Tributação baseia-se na avaliação de 12 serviços básicos feita por 2002 entrevistados em 140 municípios, no mês de dezembro. Destes, apenas quatro foram aprovados pelos usuários: fornecimento de energia elétrica, fornecimento de água, iluminação pública e educação superior. Os demais _ transporte urbano, rodovias/estradas, conservação de ruas e avenidas, educação fundamental e ensino médio, atendimento à população nas repartições públicas, segurança pública, postos de saúde e hospitais _ foram considerados de baixa ou de muito baixa qualidade. Limpeza urbana teve 50% de aprovação e 50% de reprovação.

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A maioria dos consultados considera que a arrecadação de tributos pelos governos é mais do que suficiente para melhorar a qualidade dos serviços públicos. Por isso, a possibilidade de criação de novos tributos, em especial o retorno da CPMF ou de qualquer taxação semelhante com o pretexto de financiar a saúde, é rejeitada inequivocamente por 72% dos ouvidos. Essas pessoas acham que a baixa qualidade dos serviços de saúde deve-se mais à má utilização dos recursos públicos do que à falta deles. A maior parte da população considera a carga tributária excessiva: 87% dos entrevistados responderam que os impostos são elevados ou muito elevados.

O serviço prestado por postos de saúde e hospitais foi pessimamente avaliado. Aparece em último lugar na pesquisa, sendo reprovado por 81% dos inquiridos. Na penúltima colocação está a segurança pública, vista como de baixa ou muito baixa qualidade por 72% do público consultado. Não destoa em nada do que se verifica cotidianamente nas ruas das grandes cidades brasileiras e no sistema de saúde pública. De um lado estão os cidadãos acuados pela violência e pela criminalidade, gradeados em suas residências, inseguros para circular à noite e perplexos diante da disseminação do tráfico de drogas. De outro, estão os usuários do sistema público de saúde, amontoados nas emergências de hospitais, torturados por longas esperas por cirurgias ou por atendimento competente para seus males. A pesquisa da CNI apenas escancara mazelas históricas do serviço público que sucessivos governos, em todos os níveis da administração, não têm conseguido corrigir. Embora não se possa _ e nem se deva _ generalizar, a verdade é que os serviços prestados pelo poder público no país são caros, pouco eficientes e protegidos por prerrogativas que acabam igualando os bons e os maus servidores no conceito da opinião pública.