O diario.com.br adianta o editorial que os jornais do Grupo RBS publicarão no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados.
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SEGURANÇA NÃO É SÓ CASO DE POLÍCIA
Mesmo que não seja surpreendente, porque confirma informações que já vêm sendo divulgadas, recente pesquisa do IBGE expõe em números um drama com o qual todos convivem, por já terem sido vítima ou acompanhado o trauma de um familiar ou de alguém próximo atingido por algum tipo de violência. O estudo Características da Vitimização e o Acesso à Justiça no Brasil, realizado em 2009, com base em entrevistas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), revela que apenas 48,4% das vítimas de furto e roubo recorrem à polícia em busca de ajuda e 10% destas não registram formalmente em delegacias o fato ocorrido.
Tem-se com a pesquisa, com base em trabalho científico, a exata dimensão da insegurança, um sentimento manifestado por 47,2% da população. As revelações do IBGE não podem ser recebidas com resignação, tampouco levar à conclusão de que a frágil imagem da polícia é a única responsável pela falta de confiança nas autoridades. Numa situação de normalidade, com o pleno funcionamento das instituições de segurança e da Justiça, a primeira atitude de vítimas de assaltos seria a busca de providências legais. Os brasileiros não reagem assim. Desistem de buscar socorro nas delegacias por entenderem que o registro da ocorrência não é relevante. É de se lamentar que um dos argumentos seja o de que recorrer aos policiais não mudaria os rumos do acontecido ou em nada contribuiria para uma eventual reparação.
Sabe-se, pelos fatos que se repetem diariamente, que a sensação de insegurança é real. Os brasileiros se ressentem da falta de polícia nas ruas de forma ostensiva e preventiva. E não se sentem impelidos a procurar socorro quando são vítimas de violência porque certamente não acreditam também que o desfecho de seus casos na Justiça será o mais adequado.
Assim, a falta de confiança na polícia é apenas parte do retrato da insegurança. Repete-se à exaustão que estruturas policiais convivem com deficiências de contingente, falta de equipamentos, baixos salários dos agentes, corrupção e impunidade. Neste cenário generalizado, cidadãos e empresas se veem obrigados a recorrer, quando podem, aos serviços de segurança privada e à instalação de equipamentos, como atenuantes geralmente caros e também falíveis. No entanto, esse quadro desolador que torna a todos vulneráveis à ação de delinquentes e gera insegurança tem causas que vão bem além das limitações dos organismos de segurança.
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Mesmo que a segurança seja de fato encarada como prioridade, com uma efetiva política nacional e de integração das polícias, com a disseminação de experiências bem-sucedidas, como as Unidades de Polícia Pacificadora, implantadas no Rio, e com a valorização da atividade com remuneração condizente com os riscos que esses profissionais enfrentam, além de ações sociais que atenuem desigualdades e desestimulem a criminalidade, é preciso ir muito além. Todas essas providências serão parciais, se a população não tiver a certeza de que os criminosos serão detidos, julgados e punidos. O desafio é, portanto, não só das políticas governamentais para o setor. A sensação de insegurança deve inquietar e desafiar também o Congresso, o Ministério Público e a Justiça.