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O diario.com.br adianta o editorial que os jornais do Grupo RBS publicarão no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados.

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O PAÍS DOS TIRIRICAS

Estudo divulgado esta semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelou que o número absoluto de analfabetos com 15 anos ou mais no país caiu 7% entre 2004 e 2009, representando cerca de 1 milhão de iletrados a menos nesse período. Esta poderia ser uma boa notícia, se não tivesse um complemento dramático. O mesmo levantamento, feito a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2009, sinaliza que o país ainda tem 14 milhões de habitantes dessa faixa etária que não sabem ler e escrever – um contingente equivalente à população do Chile.

Por que isso é dramático? Em primeiro lugar, porque essas pessoas que não dominam minimamente a linguagem escrita acabam sendo excluídas de muitas oportunidades para ter uma vida digna. Basta atentar para uma outra informação divulgada pelo Ipea, de que 93% dos iletrados brasileiros localizam-se na faixa de renda de até dois salários mínimos. E não passa de sofisma lembrar que pessoas praticamente sem instrução podem fazer sucesso, como foi o caso recente do humorista Tiririca, eleito o deputado federal mais votado do país. Trata-se de uma exceção. Em sua ampla maioria, os analfabetos têm dificuldades de convívio social, sentem-se diminuídos por esta condição e são naturalmente excluídos pelo mercado de trabalho, uma vez que testes e entrevistas para emprego baseiam-se fundamentalmente na palavra escrita.

Embora o país venha desenvolvendo programas de combate ao analfabetismo, o recente levantamento evidencia a lentidão dos avanços. Se for mantido o ritmo registrado nos últimos cinco anos, o Brasil não conseguirá alcançar a taxa prevista na Conferência Mundial de Educação de Dacar, de 6,7% em 2015 – meta resultante do acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Para recuperar o tempo perdido, o ministro Fernando Haddad, da Educação, está pedindo o apoio dos prefeitos de municípios localizados nas áreas rurais, onde as taxas de analfabetismo adulto são maiores.

A verdade é que as políticas públicas voltadas para a alfabetização de jovens e adultos não estão apresentando resultados satisfatórios, especialmente em decorrência de questões socioeconômicas, já que a maioria dos estudantes tem dificuldade para conciliar trabalho, sustento da família e estudo. Um dado especialmente alarmante é o de que a maternidade precoce afeta um terço das meninas de 15 a 17 anos que estão fora da escola.

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O que fazer? Além de revigorar o programa de educação de jovens e adultos, com currículos mais atraentes e alternativas de formação profissional, o país precisa fortalecer a visão de que a escola é o melhor caminho para o desenvolvimento individual e para a construção de um país melhor. Também é importante desenvolver a ideia de que educação não é apenas dever de governo, mas sim de Estado e da sociedade, sendo indispensável um maior envolvimento das famílias com a escola.

Por mais respeito que o deputado-humorista mereça, não podemos nos tornar um país de Tiriricas que dependem da benevolência alheia ou de apadrinhamento político para ocuparem seus espaços no mundo.