O diario.com.br adianta o editorial que os jornais do Grupo RBS publicarão no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados.
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A MATEMÁTICA DO ATRASO
Levantamento divulgado esta semana pela ONG Todos pela Educação revela um quadro dramático na aprendizagem de matemática no ensino fundamental e médio no país. De acordo com o estudo, mais de 85% dos estudantes do nono ano do fundamental e 89% dos alunos do terceiro ano do médio foram reprovados nesta disciplina essencial para a formação de cidadãos capacitados a lidar com números e com operações simples da linguagem matemática. Também não são animadores os resultados de língua portuguesa, considerados a partir da pontuação dos alunos no Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb) do Ministério da Educação. Mas o fracasso coletivo no aprendizado de matemática revela claramente que a escola e os professores não estão conseguindo ensinar satisfatoriamente os conteúdos desta disciplina aos estudantes.
Entre as consequências do baixo nível de aprendizagem em matemática estão os altos índices de reprovação e evasão escolar nos cursos superiores da área de ciências exatas. Como muitos alunos não conseguem ir adiante e desistem, o país acaba formando menos profissionais do que seria desejável em atividades como a Engenharia, por exemplo. Além disso, há total escassez de bons professores de matemática e de outras disciplinas que trabalham com números e fórmulas, como a física e a química.
Consultada sobre esta mazela do ensino nacional, a professora Esther Grossi, mestre em matemática pela Sorbonne de Paris, não hesita em afirmar que a escola está ensinando errado e que os professores, em geral, não sabem como ensinar.”Não é que lhes falte vontade e dedicação. Falta-lhes conhecimento” – esclarece. É um círculo vicioso: como a carreira do magistério tornou-se pouco atraente, porque os professores são pouco valorizados e ganham mal, o curso de Pedagogia atrai alunos que muitas vezes não se consideram habilitados para vestibulares mais difíceis. Muitos deles chegam ao ensino superior sem saber matemática e só então passam a ter contato com a metodologia de ensino da matéria. Claro que há exceções, mas a regra tem sido esta.
No fim das contas, estoura no aluno, como mostra o estudo da ONG Todos pela Educação, que tem por meta fazer com que 70% dos estudantes brasileiros cheguem a 2022, ano do bicentenário da Independência, dominando conteúdos adequados ao seu estágio escolar. Infelizmente, por falta de professores e escolas capacitados, continuamos distantes do objetivo traçado. Mas a responsabilidade maior não é dos mestres, nem dos estabelecimentos de ensino. A culpa desse verdadeiro desastre educacional deve ser debitada aos sucessivos governos que, por negligência e falta de visão, vêm subtraindo o direito dos jovens brasileiros de receber formação compatível com suas idades.
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