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O diario.com.br adianta o editorial que os jornais do Grupo RBS publicarão no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados.

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A PARTILHA DO PODER

Na antevéspera da transição do poder no país e nos Estados, os brasileiros assistem, estarrecidos, a uma disputa pouco edificante dos partidos políticos por ministérios, secretarias de Estado e cargos públicos nas futuras administrações. No vale-tudo pela ocupação de espaços, algumas lideranças políticas desconsideram completamente a história e os compromissos programáticos de suas legendas – o que, por extensão, representa total desapreço aos eleitores. É tão explícita e constrangedora a cobiça por fatias do poder, que o cidadão fica com a impressão de que o país, que é de todos, está sendo repartido entre políticos e partidos com poder de pressão.

Não é isso o que se espera da presidente e dos governadores eleitos. Compreende-se que os novos governantes busquem formar maioria nos parlamentos e até que compartilhem suas administrações com aliados políticos. Coalizões partidárias são normais e, muitas vezes, necessárias para o bom funcionamento dos regimes democráticos. Mas a barganha é inaceitável: os ministérios, as secretarias e os cargos públicos não podem ser tratados como mercadoria, nem como moeda de pagamento pelo apoio eleitoral.

O recente episódio da tentativa de formação do chamado “blocão” no Congresso Nacional escancara o viés fisiológico das lideranças e dos partidos proponentes da operação. O objetivo explícito dos autores da ideia é tornar o governo refém de uma maioria, para poder negociar cargos, benesses e favores. Nem de longe tal estratégia pode ser considerada uma forma responsável de fazer oposição.

Infelizmente, a estrutura administrativa brasileira facilita o fisiologismo, especialmente em decorrência do alto número de cargos de confiança remanejáveis a cada troca de governo. Basta comparar com democracias mais evoluídas para que se perceba o tamanho da deformação: na Inglaterra, quando se verifica uma alternância de poder no país, troca-se cerca de uma centena de cargos de direção; na França, este número gira em torno de mil; nos Estados Unidos, chegam a 5 mil os cargos rotativos, em virtude da complexidade administrativa da maior potência do planeta.

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No Brasil, a substituição de um presidente por outro de partido diferente implica movimentação em mais de 20 mil pessoas que ocupam postos em todos os escalões da administração pública. Configura-se, aí, uma oportunidade tentadora para o aparelhamento ideológico da máquina pública e para os inevitáveis efeitos colaterais representados pelo empreguismo, pela ineficiência e pelo patrulhamento.

O que se espera dos recém ungidos pelas urnas para o Executivo, tanto na instância federal quanto nos Estados, é que saibam negociar e resistam às pressões fisiológicas. Os novos governantes que caírem na armadilha de trocar cargos por apoio poderão até conquistar a simpatia de partidos e políticos interesseiros, mas certamente serão rejeitados pela maioria da população, que não compactua com esta prática repugnante.