A investigação da Operação Trato Feito que apura fraudes envolvendo a Passarela da Barra coloca sob suspeita desde a licitação do projeto até a execução da obra. O relatório do Gaeco aponta inclusive a possível existência de uma organização criminosa “capitaneada” pelo presidente da Compur (Companhia de Desenvolvimento e Urbanização de Balneário Camboriú), Niênio Gontijo, e integrada pelo filho Renan Diegoli Gontijo, pelo diretor da Compur Giovane da Silva Constante, além de Rodrigo Hartmann Dobner – sócio administrador da Helpcon (executa a passarela) – e Rogério Vargas Elisbão – proprietário da Conceb (responsável pelo projeto).

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Durante o monitoramento, o Gaeco diz ter concluído que Niênio e Renan são sócios “de fato” de Rodrigo (da Helpcon) na execução desta obra, estando os dois à frente da construção, enquanto Rodrigo ficaria encarregado de receber os valores da prefeitura, fazer pagamentos de maiores vultos referentes aos materiais e repassar parte do recebido a Niênio e Renan.

O Gaeco relaciona um resumo de interceptações que indicarim que Niênio está à frente da obra. Entre as quais há uma ligação interceoptada de Niênio para engenheira da empresa, chamando a atenção porque os dois acessos das torres estão impedidos e manda que libere um deles. Para a investigação, fica clara a subordinação da profissional aos seus comandos.

Para o Gaeco, ficou evidente ainda que Niênio é quem comanda a obra e que tem o filho Renan como subordinado. O relatório destaca uma gravação de 28 de junho, entre Renan e sua mãe, em que o engenheiro civil diz “a gente trabalha há três anos juntos. (…). Meu pai paga meu salário”.

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A investigação diz ter verificado ainda que o engenheiro responsável pela obra, ao menos no período das investigações, não teve qualquer participação nos assuntos afetos à construção. A apuração do Gaeco verificou a presença de Rogério em alguns assuntos referentes à execução – quando ele só faz parte da comissão de fiscalização.

No dia 25 de junho, Rogério conversa com uma engenheira da Helpcon sobre cabos de elevadores. Para o Gaeco, essa gravação deixa clara também que não está sendo levado em conta o projeto original do empreendimento.

Contrapontos

Niênio Gontijo e Renan Gontijo, presidente da Compur e seu filho, respectivamente

Tanto o telefone celular pessoal de Niênio quanto o de Renan Gontijo seguiam desligados ontem. A reportagem procurou o advogado dos dois, Oswaldo Horongozo Filho, mas ele não foi localizado até a noite desta segunda-feira.

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Rodrigo Hartmann Dobner, engenheiro diretor da Helpcon, empresa das obras da Passarela da Barra

O advogado de Hartmann, Maykon Reghin Lopes, disse que a empresa Helpcon atua há 15 anos no mercado e que a companhia toma todas as decisões executivas da obra. Disse que a atuação de Niênio Gontijo é apenas na fiscalização do empreendimento, para ver se está sendo cumprido o projeto executivo. Mas admite que, pela experiência de Niênio no setor de construção civil, a opinião dele é levada em conta em alguns assuntos, na tomada de decisões da Helpcon. Afirmou também que esse trabalho de Niênio recebe suporte por parte de seu filho, Renan Gontijo, mas não soube esclarecer qual o vínculo de Renan com a prefeitura. Disse apenas que ele não é funcionário da Helpcon.

Rogério Vargas Elisbão, engenheiro civil, membro da comissão de fiscalização da obra da Passarela da Barra e proprietário da Conceb

O advogado Daniel Moreno Ferreira da Silva, disse que como o processo corre em segredo de Justiça, não podia comentar sobre o mérito da investigação.

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Giovane da Silva Constante, engenheiro civil, diretor técnico da Compur e responsável pela fiscalização da obra

Em cinco tentativas no telefone declarado à OAB pelo advogado Diego Montibeler, defensor de Giovani da Silva Constante, a resposta foi um aviso de que o número é inexistente.