A análise prévia da Operação Nota Branca, deflagrada nesta terça-feira pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em Itajaí, Florianópolis e Joinville, aponta pelo menos R$ 30 milhões em sonegação de impostos de um frigorífico de Itajaí. A empresa vinha sendo investigada há oito meses em relação a um esquema de redução de tributos no comércio de carnes em Santa Catarina.

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A operação cumpriu ontem nove mandados de busca e apreensão e três de prisão temporária (contra dois empresários e um contador). As ordens judiciais foram expedidas pela 1ª Vara Criminal da Comarca de Itajaí, atendendo pedido da Promotoria de Justiça Regional da Ordem Tributária.

A ação do Gaeco também apreendeu equipamentos de informática, CDs e DVDs no frigorífico, que serão encaminhados ao Instituto Geral de Perícias (IGP). Os documentos fiscais vão passar por auditoria aprofundada e quantificação total dos prejuízos na Secretaria de Estado da Fazenda e na Receita Federal.

Vinte e sete veículos, a maioria caminhões para transporte de cargas, foram confiscados. Além disso, 16 testemunhas serão ouvidas até sexta-feira. Os nomes da empresa e dos envolvidos não foram divulgados, já que a investigação ainda não terminou e as detenções são temporárias.

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– Tão logo reunimos os indícios e fomos ao Poder Judiciário, a Vara Criminal prontamente atendeu nossos pedidos para os mandados. Práticas contra a ordem tributária sangram os cofres públicos – comenta o promotor de Justiça Marcelo Truppel Coutinho, da 11ª promotoria de Itajaí.

Investigação

A investigação começou no início do ano, após diversas denúncias recebidas pela Secretaria de Estado da Fazenda e Receita Federal, em que foram apontadas as suspeitas ações fiscais ilícitas na comercialização de carne.

As informações foram encaminhadas ao Ministério Público e foi instaurado um Procedimento de Investigação Criminal pela 11ª Promotoria de Justiça de Itajaí, com atuação regional na Ordem Tributária. Escutas e interceptações telefônicas autorizadas foram alguns dos instrumentos usados na apuração.

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A auditoria tem prazo de 180 dias para ser encerrada, sendo prorrogável pelo mesmo período. Mas a expectativa é de que o processo ocorra com agilidade.

– Trabalhamos para concluir os trabalhos no menor tempo possível, até porque essa não é uma investigação que começou hoje – destaca Francisco Martins, gerente fiscal da Fazenda estadual.

Empresa sonegava de duas maneiras, aponta investigação

Segundo a investigação, o frigorífico de Itajaí sonegava impostos de duas maneiras. Na primeira, com prejuízo inicial estimado em R$ 10 milhões, eram vendidas carnes sem nota fiscal para empresas enquadradas no Simples Nacional. Neste regime tributário diferenciado e simplificado, é preciso que algumas condições sejam atendidas para o enquadramento, e é interessante o não uso da nota fiscal para que não se extrapole nenhuma exigência de faturamento.

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Depois, essas mesmas notas eram vendidas irregularmente para empresas que têm a chamada Apuração Normal do ICMS – neste caso, quanto mais compras, maior o crédito de ICMS e menor o repasse de arrecadação ao Estado.

Na outra forma de sonegação, com prejuízo calculado, até agora em R$ 20 milhões, o frigorífico comprava carne de outros Estados, com imposto de origem de 3%, por exemplo, e aproveitava em Santa Catarina 12% de crédito do ICMS, extrapolando o limite permitido pela legislação. A investigação levantou que a carne vinha principalmente do Mato Grosso do Sul e de São Paulo, e a comercialização ocorria dentro de SC.

Após a operação contra o frigorífico de Itajaí, o Gaeco vai ampliar as ações para todo o Estado. Segundo se apurou nos oito meses de trabalhos, várias empresas se utilizam da mesma prática, até para se manter no mercado diante da concorrência desleal que foi estabelecida.

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Ao longo do processo, testemunhas também podem ser enquadradas em alguns crimes contra a ordem tributária se, por exemplo, for comprovado que elas adquiriram a mercadoria do frigorífico por maneira fraudulenta.