Um suposto esquema de favorecimento e corrupção envolvendo a prefeitura de Itapema começou a ser desmantelado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) na terça-feira. A operação Garoupa prendeu oito pessoas até o início da tarde e investiga pelo menos outras 13. Entre os presos está o vice-prefeito Giliard Reis (PMDB) e seu pai, José Francisco Reis Filho, conhecido como Dedeca.

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A investigação começou em maio deste ano, após uma denúncia à promotoria de Justiça de Itapema. Sem revelar detalhes sobre o funcionamento do esquema, o coordenador do Gaeco de Itajaí, Jean Michel Forest, disse apenas que a apuração envolve a aprovação e o protocolo de projetos de construção civil no município.

– Na sequência se apurou vantagens obtidas ou buscadas por agentes públicos em razão da função que ocupavam. Ainda estamos ouvindo e buscando materiais, novos crimes podem aparecer – afirma.

A força-tarefa mobilizou mais de 50 policiais de todo Estado. Às 6h agentes do Gaeco iniciaram o cumprimento de 30 mandados de busca e apreensão, 11 de prisão preventiva em Itapema e Balneário Camboriú e 10 conduções coercitivas. Até a tarde de terça-feira três pessoas ainda não haviam sido presas. Conforme o promotor Jean Forest, alguns envolvidos irão se apresentar no Gaeco de Itajaí para prestar esclarecimentos.

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São investigados crimes praticados contra a administração pública, entre os quais concussão, corrupção ativa e passiva, tráfico de influência, advocacia administrativa, prevaricação e associação criminosa.

Apreensões fecham secretaria

Foram apreendidos documentos e computadores na Fundação Ambiental Área Costeira de Itapema (Faaci), Setor de Protocolo e Secretaria de Planejamento Urbano, que ficou fechada durante o dia para as apreensões. O Gaeco fez buscas ainda no gabinete do vereador Wesley Carlos da Silva (PSDB), o Lelé. Atualmente, o parlamentar está fora da cidade.

Durante coletiva de imprensa, o coordenador do Gaeco de Itajaí informou ainda que foram sequestrados veículos de luxo e imóveis dos investigados. Empresas, escritórios, residências e imobiliárias de Itapema também foram alvos de mandados.

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Todos os presos foram levados para o Complexo Penitenciário de Canhanduba, em Itajaí, ainda na manhã de terça. Os nomes dos envolvidos não foram divulgados – entre eles estariam quatro agentes ou ex-agentes públicos. Os mandados foram expedidos pelo juiz da Vara Criminal da Comarca de Itapema.

Forest observa que ainda não é possível determinar qual o tamanho dos danos causados à prefeitura e que a apuração continuará nos próximos dias. Esta é terceira grande operação do Gaeco na região em 2015 – Itajaí foi alvo dos agentes nas ocasiões anteriores.

A operação deflagrada pelo Gaeco ganhou o nome de Garoupa porque os investigados usavam essa expressão para falar sobre dinheiro – uma alusão à cédula de R$ 100, que traz em seu verso ilustração dessa espécie de peixe. Segundo o promotor Forest, dois investigados foram flagrados em uma conversa se referindo a uma terceira pessoa “que tinha apreço por garoupas”.

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Bolinha diz que foi surpreendido por operação

O prefeito Rodrigo Bolinha (PSDB), que participava na terça-feira do Fórum de Mobilidade Sustentável promovido pela BMW, em Balneário Camboriú, representando a Associação dos Municípios da Foz do Itajaí-açu (Amfri), disse que foi surpreendido pela prisão do vice quando se dirigia ao evento. Afirmou que ainda não sabia detalhes sobre a operação, e disse que um possível afastamento do vice-prefeito seria matéria para a Câmara de Vereadores.

Bolinha e Gilliard, embora mantenham a parceria política, estão com relações cortadas há algum tempo. Desde março o vice não tem mais atuado na prefeitura, segundo o prefeito.

A Câmara de Vereadores também se manifestou, por meio de nota, sobre o mandado de busca e apreensão cumprido no gabinete do vereador Wesley Carlos da Silva. Conforme o texto, nenhum outro gabinete esteve envolvido na operação. O Legislativo informou ainda que está à disposição para contribuir com as investigações.

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*Colaborou Dagmara Spautz

CONTRAPONTO:

Giliard e José Francisco Reis

O advogado de Giliard e de José Francisco, Sandro Schauffert, afirmou pela manhã que não havia recebido informações sobre as acusações do Ministério Público e que estava indo ao litoral para se inteirar do assunto. À tarde ele não foi mais localizado pela reportagem.