Na terça-feira de manhã, a Polícia Civil identificou nove homens em situação suspeita de trabalho escravo em duas fazendas, entre eles um adolescente de 15 anos. Naturais de Pinhão (PR), eles estavam trabalhando sem registro em carteira de trabalho e vivendo em condições sub-humanas.
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A operação que envolveu dois delegados e oito policiais civis iniciou por volta das 6h. No início da tarde, o homem que seria responsável por recrutar os trabalhadores foi encaminhado à Unidade Prisional Avançada (UPA) de Ituporanga. Auditora Fiscal do Ministério do Trabalho, Lilian Carlota Rezende estava na cidade levantando informações e em 10 dias deve dar o parecer sobre o caso, quando também será encerrado o inquérito da polícia.
A investigação iniciou após denúncias anônimas feitas há cerca de uma semana, que possibilitaram a polícia chegar às localidades de Faxinal Vila Nova e Chapadão Unidas, onde os homens estavam alojados em duas fazendas e trabalhavam na derrubada e no corte de árvores de pinus e eucalipto. Na primeira delas, onde o proprietário é o dono de uma empresa de beneficiamento de madeira, havia seis trabalhadores que moravam em uma casa junto com o recrutador e o filho dele, que possivelmente, segundo a polícia, também trabalhava no local.
Na segunda fazenda, que pertence ao dono de um posto de combustíveis, três homens moravam em um barracão de madeira _ semelhante a um acampamento _ usado para armazenar cebola. No local, os homens relatam que sofriam com o frio, já que não tinha paredes, dormiam em finos pedaços de espuma, não tinham banheiro e eram obrigados a tomar banho gelado com uma mangueira.
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Com idades entre 15 e 60 anos, eles recebiam como remuneração de R$ 35 a R$ 43 por dia, dependendo da função que exerciam, mas não conseguiam ir embora do local a qualquer momento, pois teriam dívidas com o recrutador que variavam de R$ 50 a R$ 700.
Após cinco meses trabalhando e vivendo no barracão, Silton Mafaski Mendes, 25, fala com a voz embargada sobre o filho de cinco anos, que espera rever em breve.
_ Saí de onde eu morava, pois não tinha emprego. Lá eles pagam no máximo R$ 30 e aqui eu ganhava R$ 43, mas estava devendo R$ 400. Agora, quero arrumar um emprego e viver perto da minha família.
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A história de Mendes se repete com os outros oito homens. O dia de ontem foi de libertação, um pouco de luxo ao ter onde descansar e ver TV e de comodidade ao poder tomar um banho quente.
Depois da operação de resgate, os homens foram levado para um hotel no Centro da cidade e aguardavam a Assistência Social providenciar o retorno para casa. (Colaborou Fernanda Ribas)
Contraponto
O que diz Edson Andreas Voigt, advogado do recrutador Valdecir Antunes Rodrigues, e do proprietário de uma das fazendas e da madeireira:
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De acordo com Voigt, o recrutador é do Paraná e trabalha na região de Ituporanga há seis anos. Ele traz pessoas da cidade de Pinhão (PR) para trabalhar. O equívoco da fiscalização foi confundir aquele lugar como moradia deles:
_ Os trabalhadores moram numa casa com toda a estrutura no Bairro Vila Nova, em Ituporanga. Atualmente, eles estavam trabalhando em uma fazenda de reflorestamento de um empresário da região, mas eles não moravam naquele local. Eles usavam aquele rancho eventualmente para descansar depois do almoço. Como eram boias-frias, eles levavam comida para comer.
Segundo o advogado, o transporte dos empregados era feito com uma van. Eles iam e voltavam todos os dias para casa.
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_ Se fosse uma moradia realmente, a situação seria degradante _ ressalta Voigt.
O advogado vai entrar hoje com um pedido de liberdade provisória. Ele acredita que a única irregularidade do caso é a ausência de registro de trabalho dos funcionários.
Sobre o empresário _ dono de uma das fazendas _, o advogado não irá se pronunciar, pois ele é apenas uma testemunha.
O que diz Edio Machado, advogado do proprietário de uma das fazendas e dono de um posto de combustíveis:
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_ Existe uma denúncia, mas não há comprovação de nada. Ele nem tinha conhecimento do fato. Amanhã eu vou levá-lo na delegacia às 17h para dar depoimento ao delegado e vou apresentar a defesa _ afirmou Machado.