Ao contrário do que imaginara Deodoro em 1889, a República brasileira não nasceu pronta. E até hoje continua “em campanha”.
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Com seu humor predatório, Eça de Queirós enxergou em seu pince-nez uma República “pronta para ser colhida” pelo golpe de espada do hesitante Marechal.
O autor de Os Maias, que também escrevia farpas de natureza política nas gazetas de Lisboa, ironizou a República que nascia no Brasil às portas de um novo século:
“A surpreendente facilidade com que a República se substituiu ao Império provém de que há muito no Brasil nada separava a República da Monarquia, senão o Imperador. E o Imperador tinha a tal ponto se ?desimperializado? que, entre Monarquia e República, já não havia senão um fio – tão gasto e frouxo que para cortá-lo de um golpe brusco, bastou a rombuda espada do Marechal Fonseca”.
“A tal Revolução no Brasil se pareceu com uma ?mágica?. Deodoro deu um sinal com a espada – e pronto. Imediatamente, sem choque e sem ruído, cenas pintadas por Pedro Américo deslizaram rumo à realidade. A monarquia, o monarca, o pessoal monárquico – as instituições, enfim, tudo desaparece! E surge uma República!”
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Só podia dar no que deu. Uma “República de Babel”, onde todo mundo berra e ninguém tem razão. Já se chamou República Velha, Estado Novo e República Nova. Já foi ditadura e, outra vez, democracia. Vive em campanha para transformar um presidencialismo em eterna crise em improvável parlamentarismo – isso num país em que o noticiário político se confunde com o policial.
Não é crível que algum país desenvolvido interrompa o horário nobre dos seus telejornais para anunciar – em ano não eleitoral – uma “propaganda gratuita”, que é presenteada até a partidos provisórios…
No Brasil, tudo é campanha. No dia seguinte à vitória de um dos seus absurdos 32 partidos políticos, começa o “terceiro turno”.
A Oposição parece ser tão fluida e mutante que tanto pode estar no “apostolado”, como “no lado oposto”. O PMDB é um típico “partido-omnibus”, ambivalente, onde cabem tudo e todos. De dia é Situação. Ao meio-dia começa a virar “dissidente”. À noite, torna-se Oposição, querendo derrubar o governo que ele mesmo incorpora.
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O Marechal Fonseca teria, afinal, fundado essa “República de Ratazanas”, em que vivemos, ou inaugurado apenas uma “Ópera Napolitana”?