Único civil no núcleo duro do governo Bolsonaro, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, tem sob a sua responsabilidade a mais complicada missão da Esplanada: colocar em pé uma estratégia de articulação política para viabilizar a aprovação da reforma da Previdência. Sabe como funciona o plenário da Câmara, mas ainda não tem uma base de apoio definida. Para ele, os parlamentares ainda estão apegados aos métodos da antiga política.
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Quando o governo conseguirá acertar a articulação política e ter uma base de apoio consolidada no Congresso?
A gente vem de um processo de diálogo muito forte. Como as bases anteriores eram constituídas? Quando se ia para o segundo turno, se fazia o loteamento dos cargos nos ministérios. O preço que o país pagou foi brutal. O presidente foi eleito para mudar isso. Constituímos o primeiro e o segundo escalões sem interferência nenhuma. Nós temos paciência, resiliência e capacidade de diálogo para ir construindo esse caminho.
Quando será escolhido o relator da Previdência?
O deputado (Felipe) Francischini (PSL) tem um conjunto de quatro, cinco nomes que ele vem trabalhando. Qualquer um desses nomes tem histórico suficiente para dar uma resposta. A partir desta escolha, trabalhamos com um cronograma que o texto deve ser votado em torno do dia 4 de abril na CCJ e depois vai para a comissão especial.
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Os deputados reclamam de falta de diálogo e que o governo ainda não entrou na reforma. Quando vai entrar?
A história política é: o parlamentar vai no representante do governo, seja quem for. Se não for resolvido seu pleito na primeira semana, ele não foi atendido. Isso é a cultura dos últimos 40 anos. Tenho tranquilidade de falar porque nos últimos 16 anos não pisei em Palácio para pedir nada. Aliás, eu era líder da oposição.
Eu ouvia os caras da base. Eles diziam lá atrás, no Lula, na Dilma e no Temer, a mesma coisa que falam da gente hoje. Recebemos durante o período da transição 340 parlamentares. Desde que o Congresso assumiu a atual legislatura, já recebemos aqui (Palácio do Planalto) mais de 260 parlamentares.
Contamos a grande maioria como votos. O restante, é uma questão de tempo.
Os deputados cobram um comprometimento maior do presidente. Bolsonaro será o garoto propaganda da reforma?
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Qual foi um dos grandes erros que o Brasil cometeu ao longo das últimas décadas? Procurar o salvador da Pátria, desde Getúlio Vargas. O Bolsonaro é o mais improvável dos brasileiros, que foi, para quem tem fé como eu, levantado por Deus para governar esse país. Ele é "francão", humilde. Queremos mostrar para a sociedade brasileira que a nova Previdência é um caminho seguro.
Mas ele será o garoto-propaganda?
Não sei. Ele vai ter uma participação importante, é claro. Na hora certa, Bolsonaro se farda e entra em campo.
E quando será a hora certa?
Quando o texto estiver na Comissão Especial.
Os presidentes da Câmara e do Senado do Chile consideraram uma ofensa às vítimas da ditadura a sua frase sobre “banho de sangue no governo Pinochet e implantação das bases macroeconômicas”. O senhor se arrepende do comentário?
Não. O que eu falei não foi um apoio ao banho de sangue. Foi um paralelo traçado entre os dois momentos dos dois países. Aqui não precisamos do banho de sangue que teve lá.
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O próprio governo foi responsável por alguns de seus problemas nestes primeiros três meses. O que fazer para evitar uma saia-justa como a participação do presidente em polêmicas nas redes?
É o jeito dele. Esse é o Bolsonaro que as pessoas votaram (o ministro faz o sinal da arminha com as mãos). É o cara que vai para Davos e vai no bandejão. Esse é o Bolsonaro. Eu não posso fazer nada. Bolsonaro é o extrato majoritário da sociedade brasileira. O brasileiro é assim! Por que que o WhatsApp cresce absurdamente no Brasil? Porque não tem que escrever, é só falar. Então, enfrentamos hoje um momento onde nós somos fruto dos erros do passado. Cobrar do governo que em apenas 80 dias a gente supere toda uma história de três décadas eu acho que é pedir demais. Podem cobrar daqui a dois anos, porque vai ser outro Brasil.
Os filhos do presidente atrapalham mais do que ajudam?
Sou pai de um lote de filho. Filho nunca atrapalha.
Seus filhos não têm a sua conta nas redes sociais ou a influência em Brasília, como os filho do presidente. Os filhos do presidente atrapalham?
Não. Temos que fazer ajustes. Eu já acertei e já errei. Tenho humildade para pedir desculpas como ele (Bolsonaro). Tem um tempo de ajuste. Nós não estamos fazendo uma corrida de 100 ou 200 metros. Nós estamos fazendo uma maratona de 42 quilômetros, quatro anos.
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*Com participação de Silvana Pires