O relatório dos inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a Síria, divulgado ontem, confirma que armas químicas foram usadas em um ataque nos arredores de Damasco, no último dia 21 de agosto.

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O texto menciona o gás sarin.

“Nossa conclusão é que armas químicas foram usadas em grande escala no conflito em andamento entre as partes, também contra civis, incluindo crianças”, diz trecho do relatório. E completa refletindo o sentimento dos inspetores: “Esse resultado nos deixa com uma profunda preocupação.”

De acordo com o documento, provas coletadas por meio de material do meio ambiente e amostras químicas e médicas atestam que houve “evidências claras e convincentes” do uso de gás sarin na região de Ghouta, na periferia de Damasco. Esses elementos probatórios são testes de sangue e urina de 34 vítimas do ataque, que teriam dado “definitivas evidências” de exposição delas ao gás sarin, reforçando a análise clínica dessas pessoas, que apresentaram perda de consciência, convulsões e irritação nos olhos.

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Antes da apresentação do relatório, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, havia conversado com os diplomatas do Conselho de Segurança sobre o seu conteúdo, que lhe foi entregue pelo investigador-chefe para armas químicas, Ake Sellstrom.

Fontes americanas já haviam confirmado o ataque. Dizem que os mortos somam 1.429, sendo 426 crianças. Ban dissera, na sexta-feira, que o relatório de Sellstrom seria uma confirmação “esmagadora” do uso de armas químicas. Também afirmara que o ditador sírio, Bashar al-Assad, “cometeu crimes contra a humanidade”. Ontem, Ban foi novamente enfático ao afirmar que a confirmação, pelo relatório, é “inequívoca e objetiva”.

Comissão investiga 14 casos de armas químicas

Também ontem, a Comissão de Inquérito da ONU disse que investiga 14 supostos ataques com armas químicas cometidos desde setembro de 2011.

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– Temos visto os vídeos, dispomos de análises de especialistas militares – disse o presidente da comissão, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro.

Estados Unidos, França e Grã-Bretanha defenderam ontem “fortes consequências” para o governo da Síria caso não cumpra o acordo de entrega das armas químicas. Após reunião em Paris, buscaram unificar o discurso de que é necessário uma firme resolução da ONU para punir o regime.

– Queremos uma forte resolução do Conselho de Segurança da ONU que apoie um plano para o desarmamento com toda autoridade do conselho e que inclua sérias consequências se o plano não for implementado – afirmou o chanceler francês, Laurent Fabius.

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– Se a diplomacia falhar, a opção militar está na mesa – disse o secretário de Estado americano, John Kerry.

No sábado, após três dias de negociação, EUA e Rússia anunciaram um plano para que a Síria entregue suas armas químicas. Há mais de dois anos, rebeldes lutam para depor o regime de Al-Assad. As tropas oficiais contam com o apoio declarado do grupo radical islâmico libanês Hezbollah. Desde o começo do confronto, mais de 110 mil pessoas morreram, de acordo com estimativas da ONU tidas como conservadoras. Dois milhões de pessoas tiveram de deixar o país.