O presidente da comissão de investigação da ONU sobre a Síria, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, negou ontem que haja provas definitivas do uso de armas químicas na Síria, tanto pelos rebeldes quanto pelo regime de Bashar Assad.
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A declaração desmente a entrevista de Carla del Ponte, inspetora da comissão, exibida pela televisão suíça no domingo. Ela disse ter ouvido depoimentos de civis sírios que acusaram os rebeldes de terem usado gás sarin, que possui efeito paralisante, contra as tropas do governo sírio.
No entanto, a integrante da ONU, que é ex-promotora suíça, disse que as investigações ainda estão sendo concluídas. O sarin é um potente gás neurotóxico, capaz de causar desmaios, convulsões e o bloqueio da transmissão de impulsos nervosos, levando à morte por parada cardiorrespiratória.
Em entrevista coletiva, Pinheiro ainda voltou a fazer o alerta de que qualquer uma das duas partes no conflito são proibidas pela lei internacional de usar armas químicas. O desmentido ocorre em meio a uma série de acusações contra os dois lados do conflito pelo uso de armas banidas. A comissão divulgou ontem um relatório no qual acusa os dois lados de cometer crimes de guerra. No documento, são exibidas fotos de satélite de áreas civis arrasadas por forças do regime de Damasco.
Na semana passada, Israel e Estados Unidos afirmaram ter indícios de provável aplicação de gás sarin no conflito. Em março, o regime e a oposição trocaram acusações sobre o uso das armas em Aleppo, no norte do país.
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A entidade mundial pediu acesso ao território sírio ao regime de Al-Assad para investigar todas as suspeitas. No entanto, Damasco afirmou que só vai liberar a entrada a Aleppo, local onde ocorreu o ataque que o regime diz que aconteceu.
A acusação foi negada por um grupo rebelde, o Exército Livre Sírio, uma das maiores forças contrárias ao regime de Al-Assad. O porta-voz da organização, Qasem Saadedin, disse que os comentários são especulações.
O representante rebelde afirmou que Del Ponte não tem provas e disse que a ONU não pode comprovar o uso por não ter conseguido entrar na Síria. Para ele, os únicos capazes de controlar as armas são o regime sírio e milícias do grupo radical libanês Hezbollah. A declaração, no entanto, não contempla outros grupos rebeldes, incluindo a Frente al-Nusra, vinculada à Al-Qaeda.
O uso de armas químicas é o motivo colocado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para fazer uma intervenção militar na Síria. Na semana passada, ele disse não ter evidências comprovadas sobre o armamento, o que não justificaria uma invasão.
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Senado americano avalia envio de armas a rebeldes
O presidente da comissão de Assuntos Exteriores do Senado americano, o democrata Robert Menéndez, apresentou ontem um projeto de lei que autoriza a entrega de armamentos aos rebeldes sírios por parte dos Estados Unidos, uma iniciativa analisada por Washington desde a denúncia do uso de armas químicas na Síria.
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