O primeiro impacto da greve dos trabalhadores do transporte coletivo de Florianópolis foi percebida mesmo antes do sol raiar. No começo da manhã, os terminais de ônibus da Capital ficaram fechados, contrariando a rotina do começo da semana quando as pessoas pegavam o transporte logo cedo para trabalhar.
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Todo esse pessoal que deveria estar circulando pela cidade ficou parado nos pontos de ônibus, no trânsito engarrafado ou pagando a mais para chegar no horário com a ajuda de vans. Às vezes se aventurou em caronas para chegar ao trabalho no horário, mas sem garantia de como voltaria para casa.
A Prefeitura estima que mais de 1 milhão de pessoas tenham sido prejudicadas. Diretamente, cerca de 240 mil pessoas de Florianópolis e 450 mil da região tiveram um destino incerto na manhã desta segunda-feira. Quem tinha carro ainda conseguiu se virar, mesmo com o trânsito mais engarrafado do que de costume. A carona foi outra aposta. Mas quem não contou com nenhuma destas opções, ficou esperançosamente aguardando nos pontos para, quem sabe, a situação melhorasse. Mas não melhorou.
Durante toda a manhã, nenhum ônibus saiu da garagem. O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo informou que a frota ficou disponível. O que faltou mesmo era gente para trabalhar. Não havia motorista e nem cobrador disponível. A contratação de terceirizados para suprir a demanda foi descartada pelo presidente do Setuf, Waldir Gomes.
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As medidas tomadas pela Prefeitura para tentar acabar com o problemas, anunciadas ontem de manhã, seria, notificar as empresas de ônibus que, caso não cumprissem, poderiam ser multadas, e forçar uma decisão da Justiça, já que a determinação de frota mínima não foi realizada.
O “jeitinho” de quem precisou se deslocar pela cidade
Sem nada que pudesse resolver o problema, o jeito para que precisava atravessar a cidade foi se virar como pode. A uruguaia Angelina Martins, 20 anos, moradora de Florianópolis há dois anos, desceu a pé o Morro do Horácio prestes a ganhar bebê. Esperou por quase meia hora, mas nada do ônibus aparecer. Foi então que viu a van de um argentino e a opção foi pagar a mais para chegar até o Centro. Toda essa pressa era para buscar a mãe e o irmão que vieram visitá-la.

Sara Martins, mãe de Angelinta, encarou mais de 18h de viagem de ônibus e ainda chegou na Capital catarinense vendo uma cena de filme: o principal terminal de transporte coletivo praticamente abandonado. Pegou as bagagens e seguiu a filha até onde se acumulavam as vans que seguiam para o bairro Trindade e Agronômica.
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Quem também achar uma solução rápida para chegar no horário no trabalho foi a doméstica Marlene Napoleão, 73 anos. Aposentada que faz trabalho por fora para complementar a renda mensal de um salário mínimo, desde os 65 anos não sabe o que é pagar a tarifa de ônibus.
Na manhã desta segunda, ela recuperou esta lembrança de um modo bem estressante. Sem transporte coletivo para chegar ao Centro, pegou carona com um vizinho. Mas na volta, a única opção foi as vans e desembolsar R$ 7. Hoje, ela não sabe o que vai fazer, já que a cada dia para num lugar diferente. São oito casas em uma semana para limpar.
Uma viagem ao Norte
Marlene não demorou muito para pegar uma van sentido ao Norte da Ilha. A viagem seria mais confortável do que normalmente, já que os bancos são mais macios, não é preciso ir em pé e há pouca gente no transporte. O difícil foi mesmo pagar R$ 7 para voltar para casa, no bairro Ingleses.
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Ela pegou as suas coisas, sentou num dos assentos perto da saída e ficou a reclamar do preço. Junto com outras pessoas que iam para o mesmo destino, falaram da greve, das dificuldades e também de outros assuntos da moda, como a polêmica da Ponta do Coral.
Gente que não se conhecia acabou virando colega de papo para passar o tempo até cumprir o itinerário. Seria quase tudo perfeito se o transporte improvisado não fizesse apenas as rotas principais. Quem precisava seguir para algum bairro paralelo, tinha que ficar no meio do caminho e continuar a jornada a pé. Tinha gente descendo na SC-401 e que iria caminhar alguns longos minutos até o bairro João Paulo. Mulheres e homens que se submeteriam a mais esse transtorno para não perder o dia de trabalho e até o emprego.
Durante toda a manhã, a ida e vinda de vans ficou praticamente tranquila. Havia quatro pontos de referência que transportavam os passageiros para Norte, Sul, Leste e Continente. Levava cerca de 15 a 20 minutos para cada transporte sair. As conduções tinham 15 lugares, mas não precisavam lotar para começar a viagem. Se tivesse dez, já era possível partir. O problema foi para quem precisava atravessar a cidade. Do Sul até o Norte seriam duas paradas, duas tarifas, R$ 14, só para a ida. Mais a volta, que ninguém sabia como ia ser, já que o transporte alternativo só funcionaria até as 21h.
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