Neusa Rosenbrock tem uma relação especial com os livros. O hábito começou ainda na infância, época em que carregava um gibi aberto enquanto andava de bicicleta, e ganhou reforço na fase adulta. Aos 52 anos, ela trabalha como cobradora na Blumob e tornou-se uma das 80 pessoas envolvidas com o projeto Cultura nos Ônibus, que estimula a leitura dentro do transporte coletivo de Blumenau.

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A iniciativa gratuita entrou em vigor na semana passada e foi implementada em 12 veículos da frota, os quais receberam uma peça semelhante a um porta-livros em frente ao local destinado para cadeirantes. O objeto tem capacidade para receber até 10 obras, sendo que elas são repostas após o fim de cada viagem, de acordo com a retirada dos usuários.

Quem não terminar o livro no ônibus pode levá-lo para casa. A recomendação é que, após a leitura, os exemplares sejam devolvidos novamente para que outra pessoa possa ler. Os materiais podem ser entregues nos próprios ônibus, depositados nos latões do projeto presentes em todos os terminais, entregues para os cobradores que tiverem o botton do projeto ou levados até a central de atendimento da Blumob (que fica na Rua Ceará, nº 47, no Centro).

Além de incentivar e tirar dúvidas dos passageiros, Neusa aproveita o projeto para ampliar o repertório de leituras. Na última terça-feira, ela devolveu o livro “Morte no Nilo”, de Agatha Christie, a terceira obra que concluiu em apenas dez dias. Para não perder o ritmo, pegou um livro de Scott Turow, “Acima de qualquer suspeita”, e assim procura manter o hábito nos momentos livres em casa e durante o trabalho.

— Sou uma devoradora de livros e por isso também doei vários para o projeto. Vou admitir que chorei no primeiro dia, porque tinha certo apego a eles. Mas como vou pedir para os outros abrirem mão, se eu não faço? — questiona.

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Conforme a Blumob, para começar o projeto foram recebidos cerca de mil livros entre doações de passageiros, funcionários, Secretaria Municipal de Educação, Fundação Cultural de Blumenau e Rotary Rotary Club de Blumenau Flores do Ipê. Neusa aponta que o projeto está com uma boa aceitação e aos poucos torna-se mais conhecido entre os passageiros, de forma que cada vez mais comum vê-los com um exemplar nas mãos.

Entre eles está Danielle Cristhina, 26 anos, que conheceu o projeto quando entrou no ônibus e viu os livros expostos. Assim como muitos outros, perguntou para a cobradora se podia pegar e, após ler o prefácio de alguns exemplares, escolheu um romance para ler a caminho do trabalho.

— Vou ler um pouco aqui (no ônibus) e depois levar pra casa. Gostei porque assim podemos deixar o celular um pouco de lado e ver outra coisa durante a viagem — destaca a auxiliar de cozinha.

Todos os terminais de ônibus da cidade têm latões para depósito dos livros
Todos os terminais de ônibus da cidade têm latões para depósito dos livros (Foto: Leo Laps / Especial)

Risco da não devolução

Com objetivo de não inibir os passageiros, não há controle ou cadastro para levar os livros para casa. Os exemplares até recebem carimbos com detalhes do projeto para evitar que sejam vendidos em algum sebo, mas não há garantia de que serão devolvidos. Neusa reconhece que há esse risco, mas acredita que esta não será a atitude tomada pela maioria dos passageiros.

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— Alguns livros, inevitavelmente, vão se perder. Mas acredito que muitos pensam como a gente e irão devolver para que outras pessoas também possam ler. Tenho fé nisso — enfatiza a entusiasta do projeto.

Expectativa de ampliação

O projeto começou atendendo apenas as linhas troncais do transporte coletivo de Blumenau. A escolha prioritária ocorreu nas linhas troncais com a justificativa de que fazem a ligação entre os terminais. Contudo, a expectativa da empresa é que a iniciativa seja ampliada para todos os ônibus.

As linhas incluídas no projeto são os troncais 10 (Aterro via Rua São Paulo), 11 (Aterro via Rua 2 de Setembro), 12 (Aterro via Escola Agrícola), 15 (Fortaleza via Ponte Tamarindo), 17 (Fortaleza via Rua das Missões), 30 (Velha via Governador Jorge Lacerda), 31 (Velha via Rua dos Caçadores), 32 (Velha via Água Verde) e 33 (Velha via Humberto de Campos).