Onde você guarda seu racismo? Segundo Pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo em 2003, 87% dos brasileiros admite que há discriminação racial no país, mas apenas 4% da população se considera racista.

Continua depois da publicidade

É possível sermos um país racista sem pessoas racistas? A negação do racismo não sobrevive à realidade que se sobrepõe. Basta nos atentarmos às notícias para percebermos o quanto o racismo se torna pauta todas as semanas, quer seja pela atriz global aviltada pelos seus cabelos ou pelos xingamentos nos estádios de futebol ou ainda pela agressão sofrida pelas pessoas de religiões de matriz africana por todo país. Essas são situações que ganham visibilidade e geram discussões por vezes acaloradas, mas que rapidamente são esquecidas com o aparecimento de outras notícias. E aí esquecemos as questões raciais.

Leia as últimas notícias

Porém, é no cotidiano que acontece o racismo nosso de cada dia, que não ocupa as mídias, mas que impede muitos brasileiros de acessarem a cidadania. Esta negação do racismo aparece também quando atendemos às vítimas no Projeto SOS Racismo, desenvolvido dentro do Núcleo de Práticas Jurídicas da Estácio, que tem como objetivo prestar assistência jurídica e psicológica gratuita. Em um ano e meio de projeto, chegou até nós somente um boletim de ocorrência em que foi tipificado o crime de racismo, pois todos os outros são desqualificados como injúria.

Mas porque negamos tanto o racismo? Há várias possibilidades de explicação, uma delas é o fato de somente há alguns anos o Estado ter reconhecido o crime de racismo e a necessidade de combate, fruto da ideia de que somos um pais de mestiços onde as tensões raciais estão resolvidas. Sim somos um pais miscigenado, mas isso não impediu de que a hierarquia das raças determinasse lugares sociais muito diferentes para negros e brancos.

Continua depois da publicidade

Como psicóloga, reflito também sobre a negação do racismo ou o reconhecimento dele como um ato sem agente, como um afastamento do que é moralmente condenável. Se pesarmos o racismo a partir de um olhar moral, com certeza nos negaremos a nos assumirmos como racistas. É preciso um olhar sobre o racismo enquanto ideologia, ou seja, uma ideia que aprendemos desde muito cedo em todos os âmbitos sociais, na escola, na família, na igreja, nas piadas. Somente entendendo o racimo por esse prisma, poderemos combatê-lo, pois é preciso que a cognição seja alterada para que o afeto se modifique e o impulso para o ato racista desapareça.

Para tanto é necessário a informação e o debate. Nesse sentido que o SOS Racismo, junto com a Prefeitura Municipal de São José e outros parceiros, está realizando o Mês da Consciência Negra com uma série de eventos que visam refletir com a sociedade as relações raciais e uma cidade igualitária. Precisamos olhar para o nosso racismo!