Era batata: passar pelo Bourbon Country ou por baixo do arco da Redenção em determinados dias era certeza de encontrar ali dezenas às vezes centenas – de jovens de cabelo tapando o rosto, cinto de rebite, calça colada e maquiagem escura. Eram, claro, os emos.

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Resultado de uma série de influências que já foram cansativamente discutidas à época, os emos explodiram em número e popularidade há cerca de 10 anos por aqui. Multiplicaram-se bandas do estilo, lojas de roupas específicas e casas noturnas que tocavam as músicas mais importantes do estilo. Só que não demorou muito para tudo isso minguar, até deixar de ser assunto. Mas, hoje, por onde andam os emos?

– Houve um resfriamento total, não é mais a bola da vez – afirma Daniel Ferro, diretor do documentário Do Underground ao Emo, um dos mais completos sobre o assunto.

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No filme, Ferro conversa com membros das bandas brasileiras mais importantes para o sucesso do emo no Brasil: Dead Fish, CPM22, NXZero, Forfun, Dance of Days, Fresno, Sugar Kane. Grupos que hoje ou seguiram por caminhos diferentes (NXZero e Forfun são figurinhas recorrentes nas mais pedidas das rádios pop) ou voltaram ao underground. De acordo com o diretor, “hoje é como 1996: o início da coisa toda”. Como tocar guitarra e cantar sobre desilusões amorosas deixou de ser moda, sobraram os true – quem gostava da coisa antes do boom e não se importou quando deixou de aparecer em matérias do Fantástico.

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Lá fora, bandas começam a apresentar influências do emo

– Quanto aos garotos que embarcaram na febre do emo dos anos 2000, como toda moda, as coisas passam, e talvez tenham seguido outra tendência. Não é nada incomum ver pessoas falando com vergonha que ouviam a música da banda X quando eram mais novas. As pessoas que vieram antes do movimento continuam aí, ouvindo aquelas bandas e muitos dos novos grupos que estão fazendo um revival desses primeiros passos da músicas emo: You Blew It, Title Fight, Dads, Defeater – garante Nik Silva, do site Monkeybuzz. Em fevereiro, ele escreveu um texto em que defende que um renascimento do emo vem acontecendo já há três anos.

Quem era de dentro garante que tudo segue do mesmo jeito, só o que diminuiu foram as pessoas que estavam lá levadas pela onda e a loucura da mídia. Luiz Alberto Fiebig Junior, o Tatu, já foi baterista da banda ALT+F4, hoje atua no planejamento da Sapient Nitro, uma agência digital de São Paulo – virou adulto, em outras palavras. Para ele, a cena pós-2000 já era de decadência, mas não abalou os pilares do emo – e voltam à tona os true:

– Quando o emo morreu? Ele nunca morreu, segue vivo no coração de quem gosta de músicas que falam sobre a vida e experiências que nos moldam como pessoas. Depois dos anos 90 ele sofreu um pouco, porque começou a ser visto como “college rock” feito por “excluídos dos grupinhos”. Acabou virando um movimento comercial embalado por bandas de hardcore melódico que receberam a atenção e acabaram sendo chamadas de emo. Sumiu do mainstream, mas tem uma cena fortíssima na gringa, principalmente entre a gurizada.

A resposta à pergunta que dá início a esta reportagem, portanto, é: por aí. Os emos andam por aí, ouvindo bandas que gostavam, ouvindo bandas que passaram a gostar, agora com filhos, com a guitarra guardada num canto do armário, mas por aí. Não se espante, portanto, caso vá passear com seu cachorro na Redenção, domingo, e vir um sentado ao lado do arco, tomando vinho numa garrafa pet cortada ao meio.

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