O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, se pronunciou sobre as explosões que ocorreram na noite desta quarta-feira (13) em Brasília e provocaram a morte de um catarinense. O ministro falou na sessão do STF desta quinta-feira (14) sobre a necessidade de refletir sobre esse episódio, que se soma a outros acontecimentos no país.
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— Apesar de ainda estarmos no calor dos acontecimentos e no curso das apurações, nós precisamos como país e como sociedade fazer uma reflexão profunda sobre o que esta acontecendo entre nós — afirmou Barroso.
— Onde foi que nós perdemos a luz da nossa alma afetuosa, alegre e fraterna para a escuridão do ódio, da agressividade e da violência? Estamos importando mercadorias espiritualmente defeituosas de outros países que se desencontraram na história — continuou.
O ministro deu detalhes do ocorrido na noite de quarta-feira em frente ao prédio do STF. Ele afirmou que o homem envolvido nas explosões teria se aproximado do local com uma mochila e um extintor, e teria inicialmente jogado um pano na estátua “A Justiça”, que fica no local.
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Um segurança, vendo a movimentação, se aproximou do local. Em seguida, o homem jogou o primeiro artefato na estátua, que não explodiu, e os agentes da Praça dos Três Poderes começaram a tentar contê-lo, afirmou o presidente do STF.
O segundo artefato caiu mais perto da marquise do prédio e causou uma explosão, e as equipes conseguiram evitar que o homem entrasse no edifício. Depois disso, Francisco Wanderley Luiz teria acendido um terceiro artefato, se deitado sobre ele e assim causado a explosão que o levou a morte.
As equipes da Polícia Judicial, Militar, Civil e Federal atuaram em conjunto desde então, e o corpo foi retirado do local às 9h desta quinta-feira. Segundo o diretor geral da PF, o homem teria um grande número de explosivos em uma casa alugada em Ceilândia (DF).
O ministro Barroso afirmou ainda que esse episódio se soma a outros ocorridos nos últimos anos, como ameaças contra ministros por parte de deputado, desrespeito de ordem do Supremo por parlamentar, bloqueios de estradas, “pessoas acampadas pedindo desrespeito ao resultado das eleições e golpe de estado”, entre outros, culminando nos atos de 8 de janeiro.
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— A gravidade do atentado de ontem nos alerta para a preocupante realidade que persiste no Brasil: a ideia de aplacar e deslegitimar a democracia e suas instituições, numa perspectiva autoritária e não pluralista de exercício do poder, inspirada pela intolerância, pela violência, e pela desinformação — alegou o ministro Barroso.
— Cabe a pergunta, onde foi que nós nos perdemos neste mundo de ódio, intolerância e golpismo. Por que subitamente se extraiu o pior das pessoas? Pessoas com visões diversas podem ter respostas diferentes para essa pergunta, porém, mais do que procurar os inspiradores dessa mudança na alma nacional, nós precisamos fazer o caminho de volta. De volta à civilidade e ao respeito mútuo. Superar essa crença primitiva de que quem pensa diferente de mim, só pode ser um cretino completo a serviço de alguma causa escusa. A vida não deve ser vivida assim — continuou o presidente do STF.
O presidente do STF destacou a sociedade brasileira e o próprio STF como sendo plural, com modos de pensar diferente em relação a muitos temas, porém sempre tratados com respeito e consideração e pautados nos valores da constituição, que incluem a não violência.
— A democracia tem lugar para conservadores, liberais e progressistas. Somos todos livres e iguais. Só não há lugar para quem não respeita as regras da própria democracia, para quem não respeita os direitos fundamentais dos outros, para quem pensa que a violência é uma estratégia de ação. Uma causa que precisa de ódio, de mentira e de violência não pode ser uma causa boa. Ninguém tem o monopólio da verdade, ninguém tem o monopólio da virtude, tampouco do amor ao Brasil.
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Ele finalizou a fala lembrando a data desta sexta-feira (15), em que é celebrada a Proclamação da República, como uma oportunidade de “renovar votos e crenças” e um recomeço, para retomar o tempo de civilidade e o povo brasileiro como afetuoso e alegre, como sempre foi.
Alexandre de Moraes também se pronunciou
O ministro do STF Alexandre de Moraes também usou a sessão desta quinta para se manifestar sobre o ocorrido. Ele foi designado pelo ministro Luiz Roberto Barroso como relator do inquérito sobre as bombas detonadas na Praça dos Três Poderes.
— Não poderia deixar de lamentar a mediocridade de várias pessoas que continuam querendo banalizar um gravíssimo ato terrorista. No mundo todo alguém que coloca na cintura artefatos para explodir pessoas é considerado terrostista. Então quero lamentar a mediocridade das pessoas que por questões ideológicas querem banalizar, dizendo o absurdo que foi, por exemplo, um “mero suicídio” — afirmou Alexandre de Moraes.
— Não, a nossa polícia judicial evitou que ele entrasse aqui para explodir. E na hora que ele seria preso, aí ele se explodiu. Lamentar essa mediocridade que normaliza o ataque às instituições. Essas pessoas não são só negacionistas na área da saúde, são negacionistas do estado de direito, e serão responsabilizadas — finalizou.
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