Há uma evidente preocupação de Lula com a divulgação de fatos desfavoráveis ao Executivo e que colocam em xeque as exaltadas virtudes de gestora de sua sucessora.
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a inspirar manchetes da imprensa com declarações dadas esta semana, em meio a um cenário especialmente conturbado para o governo. É natural que ex-ocupantes de cargos públicos se manifestem sobre questões políticas controversas, desde que estejam dispostos a submeter suas afirmações também a discordâncias.
No caso das recentes declarações do petista, em entrevista a blogueiros simpáticos ao governo, mereceu destaque a referência direta à imprensa. Disse o entrevistado que “os meios de comunicação no Brasil pioraram muito do ponto de vista da neutralidade”. Afirmou ainda o ex-presidente, numa referência às notícias sobre indícios de irregularidades na Petrobras: “A gente não pode permitir que, por omissão nossa, as mentiras continuem prevalecendo”.
Há uma evidente preocupação com a divulgação de fatos desfavoráveis ao Executivo e que colocam em xeque as exaltadas virtudes de gestora de sua sucessora. Ao se referir a inverdades, o ex-presidente tem como alvo informações comprometedoras que já vêm sendo investigadas por Polícia Federal, Ministério Público e Tribunal de Contas da União e serão objeto de sindicância de CPI no Senado.
O jornalismo independente tem oferecido subsídios importantes às investigações, e isso é o que de fato incomoda quem tem vínculos com o governo e com o partido que está no poder. Observe-se que, ao contrário do que defende, o ex-presidente sentou-se à mesa com pessoas que não têm como oferecer a neutralidade reclamada. Suas afirmações foram produzidas numa entrevista a reponsáveis por blogs assumidamente governistas, muitos dos quais sustentados por verbas oficiais. O petista escolheu o momento e o lugar inadequados para pedir imparcialidade e defender que o jornalismo deve fazer com que a verdade prevaleça.
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A imprensa sem vínculos com partidos e governos vem cumprindo suas atribuições e pode, sim, cometer falhas eventuais, mas nunca para escamotear fatos, camuflar informações e proteger suspeitos. O esforço, em relação ao episódio da compra da refinaria, persegue esclarecimentos. O comportamento do ex-presidente não é, no entanto, surpreendente. Líderes partidários costumam, ao orientar a reação de seguidores a acusações, desqualificar o trabalho dos jornalistas.
É uma estratégia que se presta muito mais para denunciar a fragilidade dos argumentos, como os que tentam rebater as evidências de que a Petrobras fez um mau negócio no Texas, tem um ex-diretor envolvido em falcatruas e se vê assombrada por um doleiro com o qual esse mesmo dirigente tinha conexões. O ex-presidente seria mais efetivo se contribuísse para que a presidente da República esclarecesse por que, quando chefiava o conselho de administração da estatal, teve informações sonegadas pelos que conduziam as tratativas para aquisição da refinaria texana. Esta é uma das verdades que não podem ser sonegadas.