Conhecer o terreno e calcular dificuldades para arquitetar a vitória. Se os ensinamentos do livro A Arte da Guerra do general chinês Sun Tzu vão além dos campos de batalha e inspiram ações de liderança pessoal e do mundo corporativo, certamente podem se aplicar também ao segundo turno de uma campanha eleitoral em que avançar territórios será fundamental para conquistar a maioria dos eleitores e governar a cidade a partir de 2017.

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No primeiro turno o mapa de votos de Blumenau foi mais generoso com o amplo exército de Napoleão Bernardes (PSDB), que elegeu 10 dos 15 vereadores e fez 81.050 votos – 44,81% dos votos válidos. Na divisão por sessões divulgada esta semana pelo Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (confira o mapa ao lado), o atual prefeito que busca a reeleição levou a melhor em 20 dos 29 bairros com locais de votação no último domingo. O melhor resultado do tucano ocorreu na Itoupava Central, bairro mais populoso da cidade, onde obteve 9.180 votos. Já a maior diferença para o segundo colocado Jean Kuhlmann (PSD) foi na Itoupava Seca, onde conquistou 3.301 a mais que o principal oponente. Outra peculiaridade é a vitória de Napoleão em bairros onde Jean despontou para a política, como Itoupava Norte e Fidélis.

O pessedista se manteve na disputa ao assegurar o segundo lugar com 63.411 votos – 35,06% dos votos válidos. Mas a vitória em nove bairros – Glória, Itoupavazinha, Nova Esperança, Passo Manso, Progresso, Ribeirão Fresco, Testo Salto, Valparaíso e Velha Grande – dá esperança para conquistar mais casas no tabuleiro do War eleitoral em disputa até o dia 30. A maior votação nominal de Kuhlmann ocorreu também no bairro Itoupava Central, onde foi superado pelo adversário, com 6.358 votos. Já a maior diferença em número de votos nos bairros em que foi o mais votado foi no Passo Manso, local em que teve 561 votos a mais que o atual prefeito.

As estratégias dos dois desafiantes nas próximas semanas miram conquistar um espólio eleitoral de 85.706 votos – quase cinco vezes mais do que os 17.639 que separaram Napoleão e Jean no primeiro turno. São 36.418 pessoas – 20,14% do total de votos válidos – que optaram pelos outros três candidatos que disputaram o primeiro turno e outras 49.288 pessoas que votaram em branco, nulo ou não compareceram no primeiro turno. Convencer esses eleitores a optarem por uma das duas alternativas apresentadas é o desafio de Jean e Napoleão para colorir mais bairros de Blumenau com as suas cores e fixar bandeiras dos seus partidos em territórios vencidos pelo adversário.

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Contrastes entre região central e bairros distantes

Um dos pontos que chama a atenção no mapa de votos por bairros é que a maioria das localidades em que Jean venceu Napoleão são bairros mais afastados da região central, como Itoupavazinha, Passo Manso e Progresso. Por outro lado, a região do Centro expandido foi mais favorável ao tucano. Para o professor da Furb e doutor em Ciências Sociais, Marcos Antônio Mattedi, a divisão de votos pode ser atribuída a diferentes hipóteses, mas sobretudo parece expressar o voto pela renda. Com isso, uma das chaves para o segundo turno será observar se os votos de Naatz, Arnaldo e Valmor se concentraram mais na região central ou na periferia e, paralelamente, conseguir mobilizar esses eleitores.

– O eleitor é pragmático: vota em quem acha que vai resolver os problemas da vida dele. Do ponto de vista do Napoleão, ele perde onde a renda é mais baixa e a insatisfação com os serviços é maior, então (o desafio) trata-se de propor soluções para ele. Já para Jean é preciso apresentar soluções melhores para o Centro expandido – avalia Mattedi.

Diferença menor do que cem votos em cinco bairros

As diferenças de votos nas regiões vencidas pelo candidato do PSD, no entanto, são bem mais apertadas do que as do tucano. Este cenário, aliás, é visto em cinco bairros onde a diferença de votos entre Jean e Napoleão foi inferior a cem. No Salto do Norte e na Velha Central, a vitória ficou com Napoleão por saldo de 71 e 70 votos, respectivamente. Já Jean levou a melhor nos bairros Da Glória (72 votos a mais), Ribeirão Fresco (27) e Testo Salto (87). Um equilíbrio que pode aumentar ou perder força no segundo turno, a depender das condições do terreno, do conhecimento do adversário e dos avanços que os candidatos conseguirem fazer na batalha por

novos votos.

Frases

“O desempenho melhor nos bairros distantes talvez seja justamente pelo fato de que nesses bairros você vê que o governo foi ineficiente, eles ficaram abandonadas. Mas a gente deve trabalhar tendo como foco toda a cidade, com uma campanha propositiva, com mais tempo, mostrando as propostas para as pessoas, independentemente

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da região”.

Jean Kuhlmann (PSD)

O que vai se buscar é potencializar nessas regiões a demonstração das realizações de governo que beneficiaram esses bairros, que são muitas, e assumir compromissos

com essas regiões em relação ao futuro. É reafirmar o que foi feito, tornar conhecido da população, o que talvez seja o maior desafio, e mostrar o comprometimento da gestão em relação ao futuro nesse bairros”

Napoleão Bernardes (PSDB)