Os protestos contra a elevação da tarifa de ônibus tiveram início na Capital em março, se alastraram por diversas capitais do país e retornaram com voltagem redobrada para Porto Alegre nesta semana. A escalada no nível de agressividade de manifestantes e policiais reforça um debate sobre os limites das ações de cada parte e o temor de novos confrontos.
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Ao ampliar o número de alvos e o nível dos danos registrados, o mais recente protesto contra a tarifa de ônibus em Porto Alegre inflamou um debate sobre a violência nas manifestações e o papel de ativistas e policiais. Reproduzida com fôlego nas redes sociais, a discussão apresenta pontos de vista divergentes sobre o rumo da mobilização, mas encontra um ponto comum: o temor de acirramento dos ânimos.
Zero Hora ouviu líderes políticos, sociólogos, manifestantes e cidadãos de diferentes matizes ideológicos sobre a elevação na agressividade dos protestos. Foram contabilizadas depredações ao patrimônio público e privado. Em contrapartida, a Brigada Militar deteve 23 suspeitos. Um vídeo publicado na internet mostra que policiais recolheram pessoas até de dentro de um bar. Não houve, porém, relatos de agressões como as praticadas pela PM paulista.
Até esta semana, os alvos costumavam ser prédios relacionados à questão da tarifa de ônibus, como a prefeitura.
– A população está ficando mais indignada com o aumento do custo de vida, com a corrupção e a falta de democracia nas discussões sobre as cidades, além da forte repressão que houve em São Paulo – argumenta a vereadora do PSOL Fernanda Melchionna.
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O protesto de quinta na Capital sucedeu a manifestações em São Paulo, por sua vez inspiradas no movimento porto-alegrense, que envolveram duros confrontos entre ativistas e policiais. Fernanda sustenta que dar destaque a atos radicais promovidos por uma minoria é uma tentativa de criminalizar o movimento na Capital. Para o líder do PSDB na Câmara de Vereadores, Mario Manfro, as depredações devem ser vistas, sim, como parte das manifestações e combatidas com rigor pela polícia.
– Se tu chamas um manifesto, tu és responsável pelo bônus se conseguir a tua meta. Mas também é responsável pelo ônus se as coisas fogem do controle – sustenta Manfro, que também condena os bloqueios de vias públicas.
O cientista político e coordenador do curso de Ciências Sociais da Ulbra, Paulo Moura, avalia que o vandalismo é promovido por pessoas que procuram ampliar a visibilidade das ações aproveitando-se de um cenário de insatisfação popular provocado pela inflação e perda do poder aquisitivo.
– Embora não se fale nisso, é a perda do poder aquisitivo que explica, também, o apoio popular ao movimento. Mas, quando ocorrem abusos, a polícia tem de agir – defende.
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O problema, na visão do ativista Lucas Fogaça, da Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre (Anel), é que os atos violentos, segundo ele pontuais, motivam ações ainda mais agressivas das autoridades.
– Quando há algum excesso, a reação da polícia é desproporcional. Por isso, a partir de agora as lutas devem adotar um caráter mais amplo também contra a repressão – aposta.
Para a cientista e professora da UFRGS Céli Regina Pinto, a resposta para a escalada de violência deve ser buscada:
– Dizer que são vândalos não basta. Não estou defendendo, apenas dizendo que precisamos saber quem são, porque essa violência é muito perigosa.
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Veja as opiniões
– Rejane Azevedo
Não consigo aceitar esse tipo de manifestação, onde as pessoas não estão ali para reivindicar um direito, mas para fazer baderna, depredar o patrimônio e incitar a violência. Temos direito de protestar de maneira civilizada.
– Adair Dolzan
Sou a favor de que as pessoas protestem contra alguma coisa, aliás, os brasileiros precisam protestar mais. O que é inaceitável e revoltante é sair para a rua só para destruir o patrimônio público e privado.
– Carlos Tadeu Rosa
Temos de valorizar a democracia, a liberdade de expressão, mas sempre respeitando os direitos dos outros. E o que está acontecendo nos protestos atuais chama-se “vandalismo”.
– Bibiana B.S.
As manifestações fazem parte de uma luta pelos direitos, mas nem toda luta precisa envolver violência. Será mesmo que precisa aumentar o preço da passagem? E o que é feito com o dinheiro do imposto que pagamos?
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– Jose Augusto Rocha
Sou a favor de toda manifestação que visa a reivindicar melhorias em favor da população. Porém deve ser pacífica e ordeira. Quando descamba para agressões e depredações, perde a razão.
– Rafael Schwartz
Ninguém é a favor do vandalismo. São criminosos e devem ser tratados e punidos como tal. Mas 99% é gente de bem, lutando pelos teus direitos e que bom que os nossos jovens estão tomando as ruas.
– Eliana Machado
Todas as manifestações são válidas, o povo tem direito a reivindicar, mostra que a união faz a força, mas quando vira uma baderna e depredação contra o patrimônio, sinto vergonha. Dessa maneira, perdemos a razão.
– Ernesto Dozza de Ivanoff
As manifestações sempre levaram à reflexão dos governantes, isso é pacífico. No entanto, quebra-quebra, vandalismo, tiram o foco do motivo e fica para segundo plano o motivo do movimento.
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– Alberto Roberto
Protesto pacífico deve ser tolerado. Protesto com vandalismo deve ser combatido com jatos de dispersão com tinta colorida. Não causa lesões em manifestantes, jornalistas, como balas de borracha, e facilita a identificação.
– Bela Daudt
É uma manifestação legítima, em busca de direitos e de democracia. Se alguns gritam “Acabou o amor” e jogam pedras em agências ou carros, a maioria abafa o som com pedidos de real mudança, de não violência.
– Bento Amaral
O simples e óbvio é que as manifestações são legítimas e devem ser ouvidas pelos nossos representantes políticos em todos os níveis. Agora nada justifica o vandalismo causado, o transtorno à sociedade é evidente, é o efeito das manifestações.
– Antonio G. da Silva
Manifestações legítimas, que não perdem o significado por conta de um ou dois alheios ao propósito real. Descabida a atitude de governantes e da polícia, que evidenciam o terceiro mundo em que vivemos.
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– Vanessa Sandri
As manifestações são necessárias para melhorar a vida das pessoas. O que não dá para entender é a atitude violenta dos governos que não sabem lidar com isso. Desproporcional, a repressão em São Paulo.