Assim que a inesperada onça-pintada começou a deixar pegadas no chão da Vila Cubatão, no ano de 1957, teorias não faltaram. Uns disseram que o bicho fugiu de um circo; outros, que foi deixada por um caminhão que seguia em direção ao Paraná. O que era folclore virou medo assim que a onça começou a fazer vítimas nos sítios, antes tão sossegados que não raro se dispensavam cercas. Primeiro, um cavalo; depois, um cachorro. Quase pegou um bezerro. E se a próxima fosse uma criança? A história da incursão de cerca de 50 homens, que ficaram mais de uma semana vagando no mato, com a missão de matar a fera, é uma das lembranças mais antigas da infância de Olívio Cristino, o Tino.
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Hoje com 60 anos, Tino era um menino quando viu no chão as marcas das patas do bicho. Estavam em volta de uma arapuca que ele e o irmão armaram no mato para apanhar rolinhas.
– Ela deve ter sentido o meu cheiro e do meu mano. Ele viu a marca, me mostrou. Comentou que devia ser um cachorro. Eu disse que só se fosse de um lobisomem – conta.
Após isso, um ano de pavor: crianças trancadas em casa, autorizadas apenas a ir até o galpão que abrigava a escola. Quando todos já iam se esquecendo, a fera voltou. Matou a égua que pertencia ao pai de Virgílio Steffens. E de um jeito que “parecia ter chupado todo o sangue do cavalo”, lembra Virgílio. Assim começou a ficar demais. Foi aí que um punhado de homens mais corajosos saiu para o mato à caça da onça.
De pés descalços, armados com facões, espingardas de caçar passarinho e algumas garrafas de cachaça. Uma cama de folhagens amassadas, onde se viam uns estranhos pelos avermelhados, apontaram que o bicho não estava longe. Após dias de caminhada, três homens afinal viram a onça, empoleirada numa árvore.
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O pai de Tino disparou o tiro que acertou o coração do bicho. Na época, o pacato Maximiano Leopoldino – que só tinha de bélico o fato de ter servido ao Exército -, posou para fotografias ostentando um rosto carrancudo e uma pistola pica-pau comprada na Casa Fernando Tilp & Cia.
A carcaça da onça ficou dias exposta no Ginásio Abel Schulz, com ingresso cobrado. O feito rendeu notas em jornais e uma certa celebridade ao agricultor Maximiano. A história da caçada ainda está na memória dos mais antigos. De concreto, restaram duas fotos e a caveira da onça. A ossada foi envernizada, as mandíbulas, presas com um arame. Mora em cima de uma mesa na casa de uma irmã de Tino. Ninguém da família dá nem empresta a caveira para nenhum museu.
– É uma relíquia – defende Tino.
Relíquia inédita da única onça a dar as caras em Joinville nos últimos 50 anos. Pelo menos, de que se tem notícia.