Se passaram 128 anos desde a realização das primeiras Olimpíadas. Na primeira edição, em Atenas, todos os 311 participantes eram homens. As mulheres só competiram quatro anos depois, em 1900, nos jogos de Paris. Agora, novamente na França, o número de inscritas chegou à metade.
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Obviamente, não galgamos essas posições naturalmente. Tudo na equidade de gênero é a fórceps. E ainda há barreiras a serem ultrapassadas. Mas diante dos exemplos deixados pelas Olimpíadas de 2024, o caminho vai ficar oxigenado pela força e pela raça.
Quadro de medalhas de Paris 2024
Três motivos e cenas históricas para reforçar a esperança
A imagem de Rebeca Andrade no pódio da ginástica com a medalha de ouro no peito sendo reverenciada por outras duas mulheres negras é um bálsamo de dignidade e de humanismo. A jovem de apenas 25 anos já é a atleta olímpica brasileira com o maior número de medalhas em jogos olímpicos. Alguém duvida desta força de vontade? O brilho nos olhos e o peito estufado mostram que ela sabe o feito histórico que conquistou, que precisou lutar contra os fantasmas históricos emocionais e que atrás dela (ou do lado) estão milhares de atletas mulheres e negras ganhando ainda mais gás para continuar conquistando seus sonhos, seus objetivos e espaços que nunca antes foram ocupados.
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Confira como foi o desempenho dos catarinenses nas Olimpíadas de Paris 2024
Dias antes, a esgrimista Nathalie Moellhausen passou mal logo na estreia da competição, e surpreendeu ao revelar horas antes de competir que descobriu um tumor benigno nas costas. Ela chegou a treinar no hospital, às escondidas. Mesmo abalada pela descoberta, entrou em campo para enfrentar a canadense Rauen Xiao. Nathalie representou milhares e milhares de mães, esposas, filhas, profissionais que trabalham doentes para não deixar de cumprir a responsabilidade. Que cuidam dos filhos mesmo destroçadas pela bagagem emocional e pressão de ser mais, melhor e dar conta de tudo. Não era só ela que estava na pista, eram as atletas do dia a dia.
Do time de meninas da ginástica rítmica em grupo veio mais um exemplo de resiliência. Na sexta-feira (9), as meninas faziam a apresentação quando Victoria Borges sentiu dores na panturrilha e se apresentou machucada. Todas sabiam do problema físico da colega, mas a dor voltou durante um simples aquecimento. No final, ela saiu carregada e a emoção tomou conta do time. Numa sociedade tóxica, de olho por olho e dente por dente, exemplos de empatia são marcantes e merecem holofotes. E não falo de sororidade — uma palavra já tão banalizada e usada de forma incorreta, oportunista. Falo de união mesmo. De amor pelo próximo, de generosidade, de empatia.
Impossível não se emocionar. O esporte é, sim, sinônimo de superação, mas desta vez deixou lições que servem para um futuro mais justo. E com o perdão do chavão, o lugar da mulher é onde ela quiser, sim. Inclusive no pódio e com medalha no peito.
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