Que grandão! Perto de mim, que nasci com 50 cm, esse cara é um gigante com seu 1,86cm. Sem contar que pesa 25 vezes mais do que eu, que cheguei com 3,4kg. O dedão dele é maior do que a minha mão. E a mão então, do tamanho da minha cabecinha. Por falar em cabeça, no começo a minha era meio torta. Depois, de tanto ficar deitado, ficou amassada. Diferente da dele, redonda e grande. Cheia de cabelos ruivos por cima. A minha parece a de um passarinho, tipo penugem, com poucos fios castanhos e bem fininhos.
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Grandão, fica sossegado. Sou bom em guardar segredos. Mesmo para a mamãe, essa mulher linda que amo desde sempre, não contarei o que vi naquele dia na sala de parto. Eu sei que não foi água da banheira que respingou no seu olho. Você ficou foi todo emocionado quando aos poucos me viu saindo da barriga dela. Eu ainda estava preso por aquele cordão, mas percebi que você achou um milagre a minha chegada.
Mas o senhor é que nem aquele velhinho que vem lá de Blumenau _ onde você e mamãe nasceram, namoraram e casaram sete anos atrás _ para me ver aos domingos. Aquele que fala uma palavra engraçada: vovô. Assim como ele, você é duro na queda. Prefere mentir a confessar que se derreteu todo quando segurou minha cabeça e ajudou a puxar meu bracinho. Vai querer mentir para mim? Então me explica porque aquele pingo escorrendo pelo seu rosto era salgado se água da banheira não era?
Ah! Está preocupado comigo agora? Então vá se acostumando: filho criado, trabalho dobrado. Quem disse isso foi a vovó, aquela também velhinha que nesses primeiros dias ajuda vocês a cuidarem de mim.
Quando eu crescer quero ir lá na sua empresa, no Bairro Coqueiros, em Florianópolis, ver como é ser engenheiro de telecomunicações. Vou gostar de conhecer seus projetos, saber como implantar redes e mexer em sistemas de telecomunicações. Já sei que a mamãe é bancária e juntou férias com a licença maternidade para ficar mais tempo comigo.
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Também quero ir a Porto Alegre, lugar onde você se debruçou sobre livros e virou mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E ainda naquele lugar bem longe, onde só se chega nesses pássaros de aço que cortam os céus, um país chamado Angola. Escutei você dizer para moça do jornal que morou lá por quatro anos, onde trabalhou para uma empresa israelense. Dia desses, você estava sentado no sofá e eu quietinho no seu colo abri os olhos. Foi quando vi aquelas estatuetas de negros angolanos que enfeitam o balcão. Também enxerguei o tabuleiro de xadrez que você joga com o vovô. Você me ensina a jogar? Também descobri que gosta de videogame.
Ainda não sei falar. Choro quando sinto desconforto: fome, fralda molhada, cólica. Mas sei reconhecer o seu esforço. Mesmo sem muito jeito você me pega no colo, me aquece com o calor do corpo, me dá um aconchego. Se eu choro, você acorda. Acho que nem tem dormido muito. Na hora do banho fica perto da mamãe. Se a vovó precisa sair, pega o carro e leva ela.
Grandão, quando eu estava na barriga você não era muito de conversar. De vez em quando botava a sua mão, mas era mais quando mamãe pedia. Agora sinto você mais perto. Nem tenho tanta experiência assim, mas acho que vamos aprender juntos. Estamos engatinhando nessa relação. E olha que nesse domingo eu só tenho nove dias de vida. E você comemora o primeiro Dia dos Pais de sua vida…
Eduardo , o Dudu, é o primeiro filho de Maíra Reif, 33 anos, e Murilo Schulz, 34. O casal mora em Florianópolis e optou pelo parto humanizado. Dudu nasceu no sábado, 2 de agosto. Na terça-feira, o quarto dia de vida de Dudu, a reportagem do DC foi visitá-lo. Esse texto foi inspirado no que foi ouvido e percebido nessa nova experiência para o engenheiro de telecomunicações e mestre em Administração Murilo Schulz, pai pela primeira vez.
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Família completa: Murilo, Eduardo e Maíra. Foto Ricardo Wolffenbüttel / Agência RBS