Há 27 anos os meses de outubro de César Corrêa são passados atrás do balcão. Dono de uma das 22 lojas do Empório Vila Germânica, que comercializa canecos, chapéus, trajes e toda sorte de souvenirs, o comerciante de 59 anos conta que a Oktoberfest já não é mais o único alicerce financeiro que sustenta as lojas da região mais alemã da cidade. Meses como janeiro, com os turistas do Litoral, dezembro, por causa do Natal, e março, graças ao Festival da Cerveja, dividem o protagonismo nas finanças da loja. Ainda assim, a Oktober representa 40% de todo o faturamento anual da loja. Por isso o empresário não mede esforços para investir na festa. O número de funcionários, que nos meses de baixa fica entre quatro e cinco, salta para 35 nos 19 dias de folia. Em todas as lojas, o número de colaboradores triplica, vai de 200 para 600.

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– O perfil da festa mudou nos últimos anos, o público tem poder aquisitivo maior. Tanto que no ano passado foi o primeiro ano em que o faturamento de dia foi maior do que à noite – conta César, que abarrotou os estoques confiante em um crescimento de ao menos 10% nas vendas em relação ao ano passado.

As lojas do empório são uma pequena parte beneficiada pelo alto volume de dinheiro que passa a circular na cidade por causa da Oktoberfest. Basta uma olhada rápida em volta para perceber as carteiras sendo sacadas com a rapidez de caubóis do Velho Oeste para a compra de canecos, tiaras, tirantes, camisetas, lembranças, ingressos, tíquetes de lanches, brinquedos, refrigerante e, claro, chope. Dinheiro e segundas vias de cartão que passam pelas mãos de pessoas como Neuza Faria, 34 anos. Pelo terceiro ano consecutivo, ela vai dar uma pausa no trabalho de divulgadora de eventos para trabalhar na bilheteria de ingressos. O dinheiro extra será muito bem-vindo, ela não nega, mas não é esta a única motivação dela para a empreitada.

– A gente também conhece gente diferente, turistas, pessoas que não estão com aquele estresse do dia a dia, são gentis e esperam com paciência, é uma experiência muito boa – conta.

Lucro da festa vem crescendo

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Apesar dessa movimentação de dinheiro que a festa proporciona, não há informações consolidadas sobre quanto é injetado na economia da cidade. Os responsáveis pela gestão do dinheiro nos dias de Oktober também preferem o anonimato por questões de segurança. Alguns números, no entanto, ajudam a dar uma dimensão sobre o alto impacto financeiro que o evento tem. No ano passado, a venda de ingressos, alimentação e bebidas na Vila Germânica movimentou cerca de R$ 25 milhões conforme dados do secretário de Turismo e Lazer e presidente do parque, Ricardo Stodieck.

Nos últimos anos uma característica tem chamado a atenção nos balanços financeiros pós-Oktober: o aumento no lucro. No ano passado, a festa teve saldo de R$ 3,2 milhões. É 70% mais do que o resultado do ano anterior e oito vezes mais do que o montante de 2012, quando a festa lucrou R$ 395 mil.

Uma das explicações para esse aumento seria a eficiência e a profissionalização da gestão da festa, que conseguiu aumentar as receitas sem elevar as despesas na mesma proporção. Em 2016 as receitas subiram 14% e as despesas, 1,97%. Outro reforço está no número de patrocinadores, que saltou de dois para seis em 2017. Por questões contratuais os valores só são divulgados no balanço posterior à festa, mas o aumento já é suficiente para garantir que o lucro novamente deve ficar acima do registrado ano passado.

Mas o principal ingrediente de mais lucratividade está na mudança no perfil do visitante da Oktober para pessoas entre 36 e 55 anos, com caráter mais familiar e que consomem mais. O chamado tíquete médio, estimativa de quanto cada um gasta, saltou. Um dos maiores aumentos ocorre na gastronomia. Em 2016 a festa vendeu 376 mil pratos, contra 289 mil comercializados em 2013 – 30% de alta em um intervalo de três edições. Do chope consumido na última festa, 80% atendia à lei de pureza alemã – de mais qualidade e, portanto, com valor mais alto. Além disso, somente na última edição o consumo aumentou 10,6%, chegando a 663,2 mil litros.

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Os resultados financeiros ajudam o município e a Vila Germânica a investirem em eventos que não têm o mesmo retorno, mas que estimulam o turismo, como Magia de Natal e Osterdorf.