Ter uma horta em um apartamento sempre é um desafio. Além da falta de lugares para colocar vasos, às vezes os bichos de estimação se divertem comendo as plantas e espalhando terra para todo lado. Para evitar esses problemas e ainda por cima reaproveitar materiais que demoram para se degradar, a “Revolução dos Baldinhos”, movimento da comunidade Chico Mendes coordenado pelo Centro de Estudos e Promoção da Agricultura em Grupo (Cepagro), vai realizar uma oficina aberta ao público neste domingo das 16 às 17 horas.
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A atividade faz parte da programação do Floripa Tem e é patrocinada pela Coppertone. Vai ser realizada no estande da Coppertone localizado do trapiche da Beira-Mar Norte e os participantes serão presenteados com mudas de verduras e ervas aromáticas.
Revolução
Rose Helena Oliveira Rodrigues, de 36 anos, estava inconformada de ver crianças da comunidade Chico Mendes morrerem de leptospirose. A região estava infestada de ratos, que trouxeram a doença. Os ratos, por sua vez, estavam atrás do lixo que se acumulava nas ruas. Para colaborar com a comunidade e também para proteger seu filho, Dênis, de 8 anos, ela começou a varrer as ruas em volta de sua casa, mas era um trabalho solitário, um esforço individual que não era capaz de resolver o problema.
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– Foi aí que apareceu a Cepagro, com a proposta de ensinar a fazer compostagem como alternativa para o lixo. Hoje nós retiramos de 2 a 3 toneladas por semana da comunidade Chico Mendes. Nosso bairro às vezes é visto como um região carente, mas a “Revolução dos Baldinhos” teve uma repercussão incrível. Fomos notícia nos Estados Unidos e no México e representantes do projeto foram para a Itália e para vários lugares do Brasil dar palestras – conta Rose.
Para fazer uma horta que caiba em qualquer apartamento, eles usam apenas material reciclável. Os engenheiros agrônomos da Cepagro desenvolvem maneiras de plantar em garrafas PET e recipientes que não têm mais função, como televisões quebradas, aproveitando-os da melhor maneira possível. Outra vantagem é que eles podem ser pendurados, virando um jardim suspenso. São essas técnicas que vão ser ensinadas na oficina deste domingo, assim como a técnica de compostagem, que era um pedido constante dos participantes. Cerca de 100 pessoas já fizeram o mini-curso, que pela terceira vez é oferecido no trapiche.
Preferencialmente, hortaliças e plantas medicinais são utilizadas nas aulas.
– A gente usa muita erva aromática também porque dura muito tempo em vaso e é uma maneira muito barata de ter uma alimentação mais saborosa e com um produto orgânico. – explica Rose.
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Desenvolvimento social
Junto com a coleta do lixo, veio o resgate da auto-estima dos envolvidos no projeto.
– Eu tenho muito orgulho de fazer parte do projeto. Sou bolsista há 5 anos – alegra-se Rose.
Entre os bolsistas também estão pessoas como Leandro Bandeira Gonçalves, de 19 anos.
– Vou ser sincero, antes de fazer parte do projeto eu vendia e usava crack. Fiquei internado em uma clínica de reabilitação e agora estou bem, trabalhando como bolsista – confessa Leandro.
A bolsa, de R$ 500 reais, atualmente é patrocinada pela Eletrosul. São 5 bolsistas no projeto, no entanto é o último ano em que as bolsas serão cedidas.
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– Nós buscamos patrocínio para continuar com os bolsistas. Também estamos concorrendo a um prêmio da Natura – revela Alexandre Felipe Cordeiro, de 28 anos, que há 6 trabalha no Cepagro.
– Comecei no Cepagro fazendo estágio quando estudava Engenharia Agrônoma e nunca mais saí. Amo o que eu faço – garante Alexandre.
É visível o carinho que ele tem pelas mudas e projetos da Organização Não-Governamental. O Cepagro tem 22 anos de existência e de lá para cá já desenvolveu práticas como o Projeto Educando com a Horta Escolar, que ensina nas escolas a maneira de se plantar, fazer compostagem, regar. Realizado em parceria com a Secretaria de Educação, o projeto será levado para 60 escolas em 2012.
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A Cepagro também trabalha fiscalizando e orientando agricultores de Santa Catarina que produzem vegetais orgânicos na rede Ecovida.
– Não é fácil porque as grandes empresas já oferecem o pacote fechado para os produtores: plante fumo, use esses agrotóxico, esses insumos, já vem o pacote completo e mais a garantia de compra do produto.
A proposta da Cepagro é que o agricultor varie sua produção, aumentando a produção do solo e a velocidade de recuperação dos nutrientes, e que ele não use agrotóxicos, o que evita a contaminação do lençol freático e o envenamento de animais e mesmo pessoas.
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– Para isso a gente precisa oferecer uma assistência porque o agricultor vai ter dificuldade no começo e isso é normal, é parte do processo de adaptação – garante Alexandre, que revela que os agricultores atendidos pelo Cepagro estão tendo sucesso na transição para os orgânicos, que são um produto de alto valor agregado.
Em rede nacional
O trabalho da “Revolução dos Baldinhos” foi registrado no documentário “A Educação e o Mosca Morta”, que mescla esquetes de ficção com projetos ambientais de Santa Catarina, buscando retratar tentativas de usar o engajamento da comunidade na busca de soluções ambientais menos impactantes. Lançado no último domingo, em Florianópolis, o filme é uma das 8 obras da série “Somos 1 Só”, e será exibido pela TV Cultura e pela SESCTV.